SAMBA EM PRELÚDIO (BVIW)
Não conheço o meu novo vizinho, mas gosto dele, principalmente, aos domingos quando ele alegra as minhas tardes com o seu piano e suas músicas que vão ao encontro do meu gosto, bem melhor do que o silêncio de então do vizinho que se foi.
E me chega Maria, também envolvida com a música do vizinho e me indaga: - O CORAÇÃO, como vai? Respondi: vai indo, nem bem nem mal , sempre batendo no compasso de espera de que o sol se levante outra vez. E completei: faz parte, afinal... Quem já não teve o seu dia de Petrarca? /Quem a paz não teve nem a guerra lhe foi permitida? /Quem do ardor do amor queimou-se para afundar-se numa geleira?/Quem já não se viu no céu para cair na terra? /Quem de nada se acerca e tudo abraça?
E o vizinho que não conheço? É dito que a visão das coisas varia de acordo com o lugar de onde se olha. Daí as distâncias planas e os mirantes elevados conseguirem efeitos maiores na amplitude e no realce de suas possíveis belezas. Mas ai eu indago: será que isto funciona com relação às pessoas? Será que na distância as imaginamos e por vezes colocamos nelas a realização de sonhos e desejos somente porque não vemos seus contornos mais simples ou defeituosos, que a distância nesses casos muitas vezes esconde e apaga?
Zélia Maria Freire
Samba em Prelúdio – autor Vinicius de Morais.