SAMBA EM PRELÚDIO  (BVIW)

 

Não conheço o meu novo vizinho, mas gosto dele, principalmente, aos domingos quando ele alegra as minhas tardes   com o seu piano e suas músicas que vão ao encontro do meu gosto, bem  melhor do que o silêncio de então do vizinho que se foi.

E me chega Maria, também envolvida com a música do vizinho e me indaga:  - O CORAÇÃO, como vai? Respondi: vai indo, nem bem nem mal  , sempre batendo no compasso de espera de que o sol se levante outra vez.  E completei: faz parte, afinal... Quem já não teve o seu dia de  Petrarca? /Quem a paz não teve nem a guerra lhe foi permitida? /Quem do ardor do amor queimou-se para afundar-se numa geleira?/Quem já não se viu no céu para cair na terra? /Quem de nada se acerca  e tudo  abraça?

E  o vizinho que não conheço? É dito que a visão das coisas varia de acordo com o lugar de onde se olha. Daí as distâncias planas e os mirantes elevados conseguirem efeitos maiores na amplitude e no realce de suas possíveis belezas. Mas ai eu indago: será que isto funciona com relação às pessoas? Será que na distância as imaginamos e por vezes colocamos nelas a realização de sonhos e desejos somente porque não vemos seus contornos mais simples ou defeituosos, que a distância nesses casos muitas vezes esconde e apaga?

 

Zélia Maria Freire

Samba em Prelúdio – autor Vinicius de Morais.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 13/12/2022
Reeditado em 13/12/2022
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