TRILHA DE NAUFRAGADOS

Cocoroca, filho de pescador das bandas da Caieira da Barra do Sul, sempre estivera ligado ao mar. Desde pequeno seo Noquinha, seu pai, o levava junto a si nas lides da pesca. Aprendera a tarrafear com maestria. Sua tarrafa era especial, pois fora confeccionada por ele mesmo junto ao seu avô, o Chico das tarrafas, motivo de orgulho da família.

Na sua adolescência além de praticar a pesca gostava de fazer longas caminhadas pela mata adentro, pois sentia uma sensação estranha e ao mesmo tempo agradável quando nela adentrava. Esta passou a ser sua rotina, pesca e caminhada. Certa feita, Cocoroca resolvera caminhar por uma trilha que o levara a Praia de Naufragados, trilha esta, de subidas e descidas, pequeno córrego no meio do caminho o convidara a provar daquela água corrente. Sentara-se sob um sombreiro a descansar e meditar acerca da maravilha daquele lugar. Vez ou outra ouvia canto de pássaros, ruídos na mata como se estivesse a rastejar, mas nada o deixara a temer, exceto uma voz suave que vinha do interior daquela mata semicerrada. Voz esta que soava familiar aos seus ouvidos, no entanto o temor se abatera no jovem Cocoroca deixando-o estático. Cada vez mais a voz se aproximava, cada vez mais Cocoroca se perturbava. Desejava correr, mas sentia seus pés plantados ao chão. Um vento se animou e uma luz no céu riscou. No meio do clarão uma linda jovem se apresentou com seus longos cabelos negros a fixar os seus olhos petrificados.

Num turbilhão de emoções, sensações estranhas viera a sua mente as estórias que sua mãe, tias e avós contavam acerca de uma donzela de longos cabelos negros que costumava aparecer aos jovens solitários quando por aquelas bandas passavam em direção a Praia de Naufragados a fim de enfeitiçá-los. Num súbito de coragem questiona a jovem os seus propósitos para com ele, afinal sua chegada não fora nada convencional. Ela nada responde e sim fica a gargalhar diante daquela pergunta infantil. Cocoroca toma coragem e reedita a pergunta desta vez com voz mais firme do que antes. Ela se aproxima dele acariciando seu belo rosto fazendo-o sentir uma suavidade excepcional, fora a deixa para que ele se sentisse seguro disseminando todo o temor até então sentido. A jovem misteriosa percebendo a tranquilidade de Cocoroca, pega em sua mão convidando-o para um passeio na beira da praia, sem nada entender aceita o convite. À medida que o casal caminhava em direção à praia no céu estrelas cintilantes iluminavam seus passos abandonando a escuridão da noite. O mar estava sereno tendo a lua como cúmplice de uma noite movida de amor e prazer entre aquele casal de jovens apaixonados.

Na manhã seguinte Cocoroca acorda sobre a relva molhada olhando ao seu lado percebe a ausência daquela linda jovem com quem tivera uma tórrida noite de luxúria. Ao levantar-se avista a linda jovem nua a banhar-se no mar entoando um lindo canto familiar. Resolve seguir seus passos na areia em sua direção, porém quanto mais adentrava no mar mais ela se distanciava e seu canto mais distante ficava. Percebendo não mais alcançá-la retorna à praia convicto de que aquela noite fora a mais importante de sua vida e jamais teria uma noite de prazer e luxúria tal qual a noite passada. Estava convencido de que as conversas que corriam a bocas pequenas na comunidade a respeito da jovem misteriosa que enfeitiçavam os homens em especial os jovens era a mais pura verdade, porém jamais contaria a alguém esta experiencia, ficaria na mente as belas recordações da Trilha de Naufragados. Afinal se contasse iriam acreditar? Ou chamá-lo de louco? Na dúvida fica as recordações.

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 04/08/19

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 07/12/2022
Código do texto: T7666821
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