VEM, MAÊ, VEM - BVIW
Sentada no banco da casa, a mulher separa os grãos não bons do feijão. Um pouco antes, custara a acender o fogo do fogão à lenha e a fumaça a fizera tossir. Sabia que não era só isso. Gostava daquelas paredes, embora o verde da tinta cobria apenas uma delas. Nas outras a cor do tijolo. Levantou-se com dificuldade até a janela. O velho carro, lá longe abandonado na estrada, se agregara ao seu cenário. Lembrou-se da filha. Precisava muito vê-la. Fazia tempo não a visitava porque havia quebrado o braço. Ah! Senhor! Quanto tempo levaria para que ela viesse vê-la? Tivesse ela a sabedoria da cidade e o dinheiro, iria vê-la. Não saberia nem como chegar lá. A vida inteira contava com Alziro para tudo. Voltou para as lembranças da filha que morava numa casa verde esperança rodeada por mariposas. Tinha um bom marido que viajava muito, mas não lhe deixava faltar nada. De repente, começou a sorrir por trás das dores que sentia.
- Mãe! Onde a senhora tá, mãe?! - Estou aqui, minha filha, trabalhando.
- Vem dormir mãe. - Tenho que terminar, pode ir dormindo, já que eu vou.
- Vem, mãe, vem! Era assim. Enquanto não ia, não sossegava, não dormia. Celeste sentia falta do tempo em que todos tinham precisão dela. Se era um tempo de desassossego, era também de vitalidade. O marido era taciturno, mas era o senhor dela e iam à missa juntos. Depois, ele se fora sem deixar nenhum palpite de como adubar a horta ou como arrumar dinheiro para arrumar a porta. O colchão deslizava da cama de tão velho. Mas isso não importava. As dores sim! E os papéis se invertiam. Deitada em sua cama com medo do que sentia, dizia: - Oh, minha filha, vem! – Venha, filha, vem!
Marília L Paixão