_______________A VOLTA
Selena parou o carro, soltou o braço ao sabor da brisa. Ao longe, avistou a casa. A fachada de tijolo à vista se destacava no prado verde. Da chaminé, translúcidas espirais de fumaça se misturavam ao ar leve da tarde. A moça adivinhou o cheiro de café, o tabuleiro de broas que àquela hora a mãe punha à mesa. Como pudera ficar por tantos anos sem ver sua velhinha? Queria abraçá-la, confessar-lhe o arrependimento por ter sumido sem notícias.
Selena viera sem aviso para quebrar a parede da distância, matar a saudade imensa. Tinha partido tão cheia de soberba. Quanta tolice! As belezas da Europa não eram um grão da sua casinha simples! Ali passara seus melhores anos, deitada na relva, olhando o colchão macio das nuvens brancas, fazendo festa com as mariposas nos dias quentes de primavera. Olhos marejados, a moça ligou o motor. O carro deslizou suave pela estradinha de terra, parou em frente à cancela de tábuas do jardim.
— Mãeeee! Voltei! — ela gritou sufocada pela emoção.
Depois de um silêncio abismal, uma estranha de cabelos brancos e faces enrugadas assomou à Janela.
— Mãe?! A filha que eu tinha morreu faz anos...
De súbito, selena compreendeu: tinha voltado tarde demais...
Proposta da semana: conto envolvendo as palavras: carro, longe, verde, mariposas, colchão, grão, parede, tijolo, fumaça, braço.