Na folha de papel dobrado havia uma confissão datada e assinada de José. Enfim, havia o relato de muitos pecados e infâmias. Exige-se muita coragem colocar naquele papel, tudo reduzido em letras trêmulas e linhas tortas. Muitos anos atrás, Maria casou-se, em tenra idade com José, o que aliás, era bem comum na época. Depois de três décadas, se separaram pois, não havia mais diálogo. Só havia aquela confissão intragável. Maria, com seu dom conciliatório, perguntou a José: - Guardastes mágoa? José que sempre foi de parcas palavras, negou com mero aceno de cabeça. E, prosseguiu vivendo em perfeito silêncio impregnado de semântica. Maria insistiu no inquérito e, ainda, perguntou se poderiam ser, ao menos, amigos. Novamente, José impávido calou-se. O casamento acabou e, a humanidade dissipou-se. José se despediu secamente. Fechou a porta, sem olhar para trás. Mais um drama postergado. Maria suspirou entristecida e, teve um sentimento inconfessável.