“Então PEÇA!” – Ela disse. O homem estirado no chão suspendia as mãos abertas em direção a Aline, como se pudesse criar um campo de força impedindo que a pistola apontada pra ele…Disparasse. Aline segurava também, em outra mão, uma faca de serra daquelas que encontramos por qualquer precinho… em qualquer mercadinho. Ela olhava uma mão... olhava a outra mão. Tentando decidir qual usar; “Então, PEÇA!” – Repetiu gritando. Pôs o cano da arma contra a bochecha do homem empurrando seu rosto e fazendo ele deitar-se com a cara no chão da rua. Ele pôde sentir o cheiro de urina, misturada com água da chuva… “Então, PEÇA!” – Ela repetia. O homem então fechou os olhos apertando-os com força (olhos tensos aguardando uma bomba inevitável que estouraria em alguns segundos). Aline ficou um pouco impressionada dele realmente não tentar pedir nada… (O que ela queria dele… afinal?? Perdão? Misericórdia? Um sanduíche? Talvez até quem sabe... um beijo?). Aline esfaqueou o homem três vezes com força e muito ódio… duas vezes na bochecha e outra no braço “ousado”, que tentou revidar. Mas, quase não o deixou sentir dor outra vez… Logo em seguida apertou o gatilho, vendo sua cabeça estourar na calçada. Pareceu frustrada… Seus olhos estavam cheios d’água. Do outro lado da rua… um rato comia lixo e parou para ver a cena, provavelmente – e gentilmente – aguardando que ela saísse dali, pra que pudesse degustar os miolos no chão (educação que um gato jamais teria). Aline encarou o animal com um sorriso trêmulo… Encarou a pistola… Encarou a faca… “Então, PEÇA!” – disse ao rato.

 

 

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 30/11/2022
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