O envelope

A casa ficara fechada por meses. Após a partida do marido, Lúcia não pôde permanecer lá, já que as lembranças ainda lhe doíam muito. Assim, ela preferiu se afastar por um tempo e foi ficar com a irmã mais velha, há quilômetros de distância. Foi bom para ambas, tiveram um tempo gostoso juntas, resgataram memórias da infância e consolaram-se das mazelas da fase adulta. Luiza acolheu a irmã enlutada com muito afeto e até desejou que ela se mudasse para sua casa de vez:

- Alugue ou venda sua casa ! Há muito espaço aqui. - ela dizia.

Porém, Lúcia não sentia que era o melhor a fazer. Agradeceu a hospitalidade e regressou à velha casa onde viveu por vinte anos ao lado do marido, sem filhos.

Ao chegar, observou que tudo estava tão arrumado...Grama aparada, fachada pintada, flores na varanda. Como seria isso possível? Após tantos meses, ao invés de uma casa empoeirada e cheia de tristeza, deparou-se com um espaço convidativo para viver.

Lúcia virou a chave, mas a porta não abriu. Contudo, ao lado de um tapete novo, com a inscrição "bem-vinda", um chaveiro indicava: "existem novos caminhos". Para sua surpresa, a chave era o novo segredo que abria a porta de sua casa. Sem entender direito, caminhou observando o interior do imóvel impecavelmente limpo, colorido e organizado. O que explicava tudo aquilo? Foi então que, ao dirigir-se ao seu quarto, deparou-se com um envelope artesanal e perfumado, sobre a cama. Lúcia retirou o raminho de flor que selava o recado e pôde ouvir nas inscrições, a voz de Júlio, seu amado:

- Querida, que bom que está de volta! Sua casa te espera, a vida te chama, vire esta nova chave e seja feliz!

Com lágrimas nos olhos, mas sorrindo, Lúcia consentiu com a cabeça ao convite, acenando para os vizinhos que lhe saudaram cúmplices, pela janela.

29/11/22.

Jessica Rodrigues
Enviado por Jessica Rodrigues em 30/11/2022
Reeditado em 30/11/2022
Código do texto: T7661115
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