Pontes partidas - BVIW
Estava tudo lá, naquela folha dobrada de papel, esquecida na terceira gaveta da cômoda, morta pelo silêncio das mãos que percorriam os pertences, ali tão bem guardados. As peças de seda vindas da Ponte da Amizade e o cheiro de capim-limão tão marcante ajudava a preservar a memória. Maria Antônia não gerava mais vontades, agora colecionava suores noturnos, calafrios, dores no corpo, e os ossos pareciam gritar por socorro. Teodoro malhava todos dias; um cinquentão e tanto, mas o que fazia bem mesmo, era aquela Eclipse vermelha, novinha em folha e cheirando a suaves prestações de financiamento. Assistindo a um filme com cenas picantes, a libido fez uma aparição e Maria Antônia não perdeu tempo, vestiu a lingerie mais descarada, aquela que convida atenção e provocou: - Teozinho, estou ardendo em chamas. Corre, meu bombeiro, vem apagar o incêndio! E os berros vindos do banheiro falou por si: - Estou cansado! Dor de cabeça!!!! Pode esquecer!!! No dia seguinte, cedinho, sua disposição voltou e sua rotina de atleta mais ainda. Cheirando a Chanel, entrou pela casa e procurou pelas chaves do carro. Não estava no lugar de costume, e mal prestou atenção na mulher. Só disse que ela fedia a água sanitária. Alguém chamou lá fora, e ele disse: querida, sinto muito. Ela respondeu: eu já sabia, achei a cobrança do banco com as prestações atrasadas.