Era uma vez, uma princesa que viajou por mundo inteiro à procura de um príncipe para ser casar e ser feliz para sempre. Em certa província, a catedral com seu sino repicava as doze badaladas. Desde o século XII, o manual do bom cristão chamado Elucidarium propunha a hora de despertar, trabalhar, alimentar-se e, de repousar. Herdou-se o calendário latino e a denominação de cada intervalo de tempo era: prima (correspondente às seis horas); a terça (as nove horas); a sexta (doze horas) e a nona (as quinze horas).
A Igreja introduziu períodos e datas que definiram o calendário cristão: a semana de sete dias em que o domingo é o dia do Senhor. Dia de descanso marcado por uma sociabilidade religiosa na qual homens e mulheres se encontram para participar de ofícios religiosos. Acrescentou mais quatro intervalos: louvor (alvorecer), véspera (pôr do sol) e completa (antes do repouso, quando a jornada está “completa”) e matina (meia-noite). As horas variavam segundo as estações, sendo mais breves no inverno e mais longas no verão. As horas canônicas eram anunciadas à comunidade pelo toque dos sinos. A contagem de cada intervalo podia ser medida pela clepsidra (relógio de água), ampulheta, vela marcada ou por orações ritmadas. Com o tempo, veio a Igreja começou a perder o controle do tempo.
Em França, o rei Carlos V ordenou, em 1350, que todos os sinos de Paris tocassem de hora em hora segundo o relógio recém-instalado do palácio real. O primeiro relógio mecânico do mundo surgiu na China, em 725. Na Europa, ele demorará ainda quinhentos anos para aparecer. Foi por volta do século XIII, que surgiram os primeiros relógios mecânicos inaugurando a marcação de um tempo novo, com horas teoricamente iguais. No século XVI, o domínio do relógio já era suficiente para suscitar no Irmão Jean, em Gargantua (1545), de Rabelais, o protesto de que “as horas são feitas para o homem e não o homem para as horas!”. O tempo passou, a princesa envelheceu e, não encontrou seu príncipe, nutriu amores platônicos e suspirou por rapazes torpes. As badaladas só castigavam a memória.