Acemil Gaves era conhecido como “vei da rudia”. Na cidade onde morava todos conheciam aquela figura pitoresca. Um senhor de cabelos compridos e esbranquiçados com barba grisalha também alongada, que usava túnica de pano de estopa, com um outro pano enrodilhado na cabeça. De igual modo eram as vestes de seus cinco filhos: Bugã, Aligomã, Neade, Neode e Dagon.

     Acemil era marceneiro, morava na capital goiana com sua esposa e filhos. Mas de um tempo para outro, foi incutindo com aspectos de religiosidade e interpretação de sonhos. Chegou em determinada ocasião; a rasgar uma Bíblia discutindo com um Pastor. Certo dia pela madrugada, pegou seus filhos e colocou em uma carroça, deixando três meninas com a mãe. E partiu rumo ao interior do Estado, seguindo pelo lado norte, o que depois de trinta dias perambulando por estradas de chão, depois de sentir um mal estar; encostou- se em um povoado às margens da BR. Que ali  mesmo se estabeleceu com os seus filhos, improvisando uma casinha em um terreno baldio.

     Era uma família que despertava curiosidade nas pessoas, principalmente pelos seus costumes: Todos usavam túnicas iguais. Não “pegavam” em dinheiro. Não relacionavam com mulheres. Os filhos não podiam frequentar escola, não cortavam os cabelos, não tomavam banho, não recebiam visitas em casa. Chegou a virar reportagem no jornal regional.

     Certa feita, Acemil sonhou que o mundo acabaria em água, como na época de Noé. Então fez uma arca de madeira: Escreveu em uma fachada: Viagem para a terra de Alamã. Depois de tudo pronto, conclamou aos filhos que juntos levantassem um jejum, para descobrir sobre o dia que iniciaria o dilúvio. Os filhos inicialmente obedeceram. Mas lá pelo terceiro dia, os mesmos passaram a fazer refeições às escondidas.

     O sr. Acemil continuou o jejum deitado sobre um banco. No décimo segundo dia, depois desta consagração. Os filhos verificaram que o pai estava morto. Juntos decidiram sem contar nada a ninguém; cavar uma cova e envolto numa rede enterraram sem nenhum alarde, o pai no fundo do quintal. Talvez fosse uma lenda; mas essa é a história real do meu sogro. Avô de minhas filhas...