Lucila aprontou sua mala para a viagem; deixava sempre  duas semanas de suas férias para passar com sua avó. Depois de 6 horas de onibus, lá estava ela, em frente da mesma casa da qual sempre se lembrava. Sua avó sentada no jardim com seu vestido florido,  abria os braços para acolhê-la. Depois de um almoço delicioso preparado por Zilda, empregada de anos, sentaram-se na sala para conversar.  Ela gostava de relembrar que era professora numa fazenda, e só era permitida ver meu avô de longe. Mas ele  escrevia para ela suas cartas  amor e as deixava escondidas em um lugar secreto.
- Ah vó, que lindo, né?   – Lucila dizia com olhos sonhadores.   

- E eu a escondia entre os cadernos, minha filha,  com meu coração disparado - respondia sua avó.
Quando chegava a noite, Lucila dormia com ela em sua cama, onde por 60 anos foi o lugar de seu av
ô. E quando estava quase dormindo, ouvia sua avó dizer baixinho: - "Tomei sim meu anjinho" – com uma voz doce.
Lucila abria os olhos assustada  "Vó! com quem voce está falando ?"  - "Seu av
ô filha, ele veio perguntar se tomei meus remédios."   Mais tarde ela ouvia o barulho das trancas da janela  e sua avó dizia que era  seu avô e que  todas as  noites vinha checar se estavam fechadas.  Como Lucila tinha muito medo de espiritos, cobria a cabeça com as cobertas.
Por muitos anos  aqueles mistérios se repetiram e, para ela, passaram a ser  quase uma lenda que  guardou por toda a vida a sete chaves.

 

Conto: Talvez fosse uma lenda

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 08/11/2022
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