AH, OS AMIGOS... (BVIW)

 

 

Ah, os amigos...Ontem quem esteve aqui em casa foi a Lia, não a que mora na ilha de Itamaracá, mas a do apartamento de cima . Foi chegando e sem beijinho/ beijinho espalhou-se no sofá e começou a debulhar as suas problemáticas, ignorando a minha presença. E, como se estivesse só começou... Vá lá entender este sentimento de reboliço dentro de mim, um dia estou por cima, acordo com o pé direito, quero me confessar com o padre Zezinho, assistir missa do padre Marcelo na TV, cantar em dueto com o padre Fábio, de preferência uma música gospel da cantora Aline Barros. E, de tão alto astral, saio dando bom dia aos que encontro pela frente. No outro, posso amanhecer macambúzia com o livro de Marcelo Gleiser debaixo do braço, cheia de minhocas na cabeça, cismando com a vida primitiva de quando, onde e como surgiu. Como ninguém ainda me convenceu do contrário acredito no que está no livro: nasceu do lodo primordial, moléculas entraram em ação, formas acidentais, divisões espontâneas, umas cresceram mais do que as outras, enrolou-se num círculo, mordeu-se a si mesma e, vibrando, dividiu-se em duas. Duas viraram quatro . Quatro , oito. E a vida ou algo como ela, havia começado. Não como eu e você. Mas também eu e você. Esse é o dia em que o pé esquerdo pisa no chão primeiro e me faz tropeçar no próprio, seguro um palavrão, detesto a cara refletida no espelho e olho atravessado para quem me serve o café. E, então, decido ir ao zoológico alimentar os macacos, enquanto no rádio do carro, Gal pede, além de socorro, um coração novo, pois o dela já não bate nem apanha - que nem o meu.

Ah, e que ninguém me pergunte sobre o dia de amanhã, com certeza será outro reboliço e eu perambulando pela cidade em busca de um lugar.

Sem beijinho/beijinho tchau/tchau Lia foi embora batendo a porta com força...

 

 

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 08/11/2022
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