_____________Em Jeans e Xadrez
Deusilene sentou-se numa mesa ao canto do bar. Olhou à volta procurando por Davi. Ele tinha dito que trajaria jeans e camisa xadrez. E era um rapaz moreno, bonito, em jeans e xadrez, que ela procurava com uma ansiedade incontrolável. Torcia as mãos sem parar e suava. Mas como passar por aquilo impunemente? Havia meses, eles namoravam no virtual. Desde o dia em que ele pedira amizade na rede, vinham combinando se encontrar.
Deusilene tinha certeza de que Davi era o homem de sua vida. O entusiasmo da moça não era infundado. Davi a chamava de minha Deusa, cercando-a de carinhos, palavras adoráveis, beijos e figurinhas amorosas. Eram o amor um do outro e embora ele morasse numa bela cidade litorânea do Espírito Santo, Minas não ficava tão longe assim. Agora, por fim, iam poder sentir o calor um do outro, tornando real o já ardentemente imaginado.
Depois de quase três horas de um suposto atraso, Deusa desistiu. Davi não viria. Consultou pela milésima vez o whatsapp, mudo até então, e lá estava a mensagem: “Perdão”. A palavra curta e seca foi a única antes do magistral bloqueio.
Deusa entrou no carro, ligou o rádio, pensou no vultoso pix passado na véspera para financiar a viagem do amado — que não veio em jeans e xadrez nem de jeito nenhum. Coincidência ou não, a FM Sem Horizontes, tocava Sandy & Junior: “Se a lenda dessa paixão/Faz sorrir ou faz chorar...”
Tema da Semana: Talvez fosse uma lenda (conto)