— Por que o 205? O senhor sabe que este é um quarto destinado a casais, não sabe?⠀
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“Vandalismo mental. Atentado ao espírito.”⠀
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Apesar de acostumadas com minhas constantes visitas, era esse o mistério por trás das exigências que tanto intrigava as duas jovens que nos recepcionavam. Afinal, por que justo esse quarto? Que tipo de lembranças haviam nele?⠀
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Meu silêncio as deixava perplexas, talvez assustadas com o olhar frio, misterioso e exigente. Em poucos minutos, concluiam que seria melhor não saber mais detalhes. Recebo as chaves e subo um pequeno lance de escadas acompanhado por minha amada. Abro a porta de nosso recinto suavemente enquanto tiro a garrafa de cachaça da mochila. Sim, uma simples cachaça com mel. Sua humildade sempre foi o que mais me encantou. Se contentava com tudo, até com um seres humanos medíocres.⠀
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Como de costume, bebemos juntos na beira da cama antes de deixar que o amor nos consuma loucamente e seu olhar tímido me tire o fôlego.⠀
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Eu bebo o suficiente para mentaliza-la no meio da noite. Metade da garrafa se perde em minhas amígdalas frias e ressecadas por sua ausência infinta até que, com muito esforço, eu possa sentir sua pele tocando a minha outra vez. ⠀
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Eu quero de volta cada detalhe. O calor do seu corpo. O fio cortante das unhas. Seu gemido suave como o de uma fada sutil prestes a adormecer em meus braços...⠀
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Nossos gritos enchem o cúbiculo enquanto a madrugada se aproxima. Meus olhos pálidos pesam a cada minuto com o copo nas mãos trêmulas.⠀
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Não ouso deitar em sua ausência, querida. Permanecerei sentado olhando em direção a janela vazia com a vigia de seus movimentos sensuais que me tiram a paz.⠀
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Frenética.⠀
Insana.⠀
Maldita.⠀
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Pela manhã deixarei nosso recinto. E caso adormeça tranqüilamente na noite seguinte, ou por um minuto sequer eu me esqueça do néctar do seu cheiro. Retornarei a este hotel em busca de sofrimento.
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