Doze badaladas e uma amiga

Desde criança eu sabia que o céu era lugar de pássaros, nuvens e avião. Os pássaros não eram velozes como aviões, mas voavam alto acima e dos prédios da cidade. Então quis conhecer um prédio bem alto. Minha primeira experiência seria em um de três andares e amarelei. - Que é isso, filho! Nem vou contar pro seu pai! Mas quando for com ele, terá que subir. Trate de perder este medo bobo.

A partir daquele dia, toda quarta-feira quando mamãe ia para aula de costura, eu esperava o sino tocar as doze badaladas, respirava fundo, ia até o prédio, queria subir sozinho, mas voltava desolado. Essas doze badaladas passaram a fazer parte da minha vida como um ritual de preparação para uma aventura impossível. Até que um dia, em frente ao prédio, uma linda e despojada menina,apareceu num vestido bem arrumado, talvez feito pelas indústrias da cidade.

-Está tudo certo, José. Este lugar é que está errado. Você precisa de um prédio com elevador ou ir até um morro muito, muito alto. - Morro?! Que nem o morro da coruja?! - Sim! Podemos ir lá depois das doze badaladas da quarta que vem... ou agora. - Como sabe das doze badaladas?! - Eu as conto com você desde a primeira vez. A primeira te faz olhar para o alto, é o lembrete da altura que deseja alcançar... José, nem sempre haverá pássaros voando por lá... - Como você sabe dessas coisas? Você não deveria saber nada mais que eu. Ele a olhou desconfiado. - Eu sou amiga da coruja. -.Você tem amizade com a coruja por acaso? - Não. - Por isso que eu sei muito mais que você. - Vai vir ou vai ficar aí?! - Vou sim. - Me dê sua mão, sei de um atalho. Ele deu, e a partir daquele instante viu uma névoa branca até se dar conta que eram nuvens e a menina não se via, havia apenas uma águia. Depois o morro, a pressa em despedir-se da coruja, a corrida real e calorenta de volta pra casa e o compromisso eterno com as doze badaladas.

Marília L Paixão