Até o próximo domingo BVIW
São amigas desde a infância. Naná não casou, é vereadora em uma cidade do Pará. Bete nunca trabalhou, casou, teve filhos, ficou viúva e vive de rendas. Ana é médica, casou, separou, tem uma filha. Neuza, não se fixa em lugar nenhum e faz de tudo para sobreviver, é só precisar. Têm um pacto de juventude: no último domingo do ano, às 14 hs, elas se encontram na pracinha em frente ao colégio que estudaram. O elo que as une são estes encontros. A maioria das vezes, é só alegria. Coisa rara de ter na vida! Cada uma faz o balanço do ano, ouve as críticas e elogios que cada uma tem para dizer. O mantra do grupo é: “amiga fala”. E como falam! Criticam, elogiam, choram e riem. Deliberam planos, atitudes, acontecimentos.
Foi assim quando Naná chegou cheia de dúvidas se ia aceitar o emprego de professora em uma aldeia indígena do Pará. Foram todas levá-la de mudança. Foi uma farra, banhos de rio, passeios. Naná adaptou e ficou. Só volta aqui para os encontros. Bete patrocinou uma viagem de navio em um réveillon. Muito riso, danças, abraços e beijos. Neuza arranjou namorados para todas. Teve até uma briguinha com Ana, que não queria saber de homem naquela viagem.Neuza teve câncer, ficou na casa de Ana para se tratar. Neste ano, Neuza não veio ao encontro. Ana deu a notícia de sua morte. “Porque você não nos avisou? Teríamos tempo de despedir.” “Ela me fez prometer que só falaria hoje e que juntas íamos deixar as suas cinzas neste banco de praça.”
No último encontro, Bete chegou de cadeira de rodas com a filha. Trouxe um bilhete: “Não conheço mais vocês. Minha mente está sendo arrancada do meu corpo. Mas sei que “amigas falam” e gostaria de reviver nossa história.” Sentaram de mãos dadas. Naná e Ana começaram a contar os casos dos encontros de uma vida. Surpresas, perceberam que também esqueceram de muitas coisas. A noite chegou e continuaram sentadas, de mãos dadas, rindo muito de tudo que viveram.
Márcia Cris Almeida
31/10/2022