Francisco acordou cedo com o barulho dos carros. No cantinho da igreja, numa cama de roupas velhas, espreguiçou-se. O frio, no quarto da rua, era bem doloroso para aqueles que não tinham um teto. Abriu sua sacolinha de pano e contou o dinheiro que era pouco. Aproximou-se de um homem apressado.
- Moço tem um trocadinho para eu comprar pão?
O homem bem vestido olhou para ele com ternura.
- Vamos lá menino, vou comprar para você um café completo.
Havia aqueles que tinham um carinho embutido no bolso. Francisco tomou aquela xicara de café com leite com vontade - ele estava acostumado a abocanhar sonhos quando dormia, mas não tão grandes e recheados com chocolate. Com o rostinho lambuzado, sorriu para o homem, pegou sua caixa de engraxate e subiu a esquina onde havia os escritórios. Caiu a noite quando terminou seu dia.
Sentou-se no banco da praça e ficou a esperar o milagre que acontecia quando o relógio da Igreja batia meia- noite. Era quando ele caminhava até a loja da esquina e olhava para aquela manequim de cabelos encaracolados que lembrava sua mãe. Sorrindo para ela, encostava os dedinhos sujos na vitrine, fechava os olhos e ela materializava-se abraçando-o contra seu peito. Depois de alimentar a alma, voltava devagar com as mãozinhas no bolso, embrulhava-se nos panos, e fechava os olhos sorrindo esperando pelo milagre das badaladas do novo dia.
Conto: Doze Badaladas