A volta da menina ( BVIW)
Vestidinho florido, cabelo em laço de fita e perninhas inquietas balançando em vai e vem na janela. Um sorriso doce e sapeca! Esta era a imagem que vovó via ao longe, também de sua janela. O vento soprava e levava suavemente as pequenas plumas brancas de dentes de leão, ao que a avó , prontamente, começava a explicar:
- Meu pai sempre diz que ao soprar o pompom branco, deve-se pensar na pessoa amada e, se o vento trouxer as pluminhas de volta, seu amor é correspondido.
A família já ouvira esta história tantas vezes, que até já sabiam o momento em que se repetiria. De costume, a fala seguinte era:
- Olha eu na janela, tão linda! Mas preciso tomar tento, para não cair, ao balançar minhas curtas pernas!
De início, os do entorno até explicavam que a menina na janela era a filha da vizinha e não ela, mas o Alzheimer já não a permitia compreender e, sua lembrança-menina insistia em permanecer. Então, eles não ralhavam, não. Guardavam o dito do bisavô em memória e sorriam a cada vez que a avó se via refletida na pequena, do outro lado da cerca.
- Exercício de paciência. - dizia a filha da idosa.
- E se eu disser que é amor, mamãe? - respondia o neto.
- Tens razão, querido! Basta ver as plumas brancas voltando contra o vento.
25/10/22