Marítimo - BVIW

Água Viva era o nome da loja. Gastava horas a admirar a miríade de criaturas marinhas que nadavam em movimentos lentos e sensuais nas telas imóveis dos aquários. Depois do trabalho insípido, a alma repousava naquelas cores e movimentos. E chegou o tempo em que, ao final do cansaço de mais um dia, foi ele que chamou sua atenção. O peixe-anjo azul e dourado, parecendo fixar nela seus grandes olhos com um afeto todo especial. Logo se tornou o único objeto da sua atenção. Então, trouxe-o para casa. E lá, colocou-o na mesinha ao lado da cama, de modo que era o amor dos seus olhos o que ela sempre via ao acordar e ao adormecer. E à medida que esse amor se fortalecia em olhares prolongados e diálogos mudos, só inteligíveis para os dois, surgiu o desejo de uma união mais próxima, mais duradoura. Pois o amor encarcerado é triste, ainda que as paredes que o aprisionem sejam transparentes. Nas primeiras horas do amanhecer daquele verão, levou o peixe-anjo ao mar. Segurou-o pela primeira vez nas mãos em concha e experimentou a felicidade daquele toque. E na onda que os varreu oceano adentro, pode-se ver as curvas de corpos abraçados no ir e vir das águas, mulher e peixe iluminados de sol, afundando-se na espuma.

Ana Deister
Enviado por Ana Deister em 25/10/2022
Reeditado em 01/05/2024
Código do texto: T7635489
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