Coisa de Mainha - BVIW
Tereza tinha uma vida reservada, não falava sobre amores ou paixonites. E quando reunia-se com a família era para falar sobre o curso de direito que estava fazendo. Dona Michele, a mãe, achava estranho, uma garota de 21 anos não namorar ou flertar. No tempo dela, aos 16 anos, já estaria casada e com um filho a caminho. Tereza nunca atrasava-se, chegava sempre no mesmo horário, britânica. O tempo passou e Tereza começou a estagiar no Núcleo Jurídico da faculdade, e aos poucos começou a desabrochar em casa. Estava mais falante, mais empolgada e risonha. Um belo dia, o telefone da mãe tocou, era ela informando que iria atrasar-se. E, na semana seguinte, a mesma coisa, virou um ritual. O celular dela não parava de tocar, e atendia às ligações no quarto ou longe dos ouvidos da família. Passava horas, e quando desligava tinha sempre uma expressão de felicidade. Dona Michele começou a desconfiar que a filha estava apaixonada, temendo o pior, resolveu confrontá-la para conhecer a pessoa. - Tereza, você está bem?. Olhe, é normal apaixonar-se na sua idade. Acho até que você demorou. A menina arregalou os olhos, e sem acreditar no que estava ouvindo, falou: - Se eu disser que é amor, a senhora acredita? A mãe desesperada perguntou: - Quem é ele? Trabalha? E a família? Conheceu na faculdade? Tereza respirou um pouco e respondeu: - Mãe, não é nada disso, não existe ele. A mãe quase infartando: - Então é ela? A menina não aceitava aquele assédio descabido: Escuta aqui, dona Michele, estou amando a minha profissão. E, só para constar, eu comecei um atendimento gratuito aos menos favorecidos, por isso chego mais tarde.