Lúcia parou em frente daquela casa e olhou com ternura o coqueirinho plantado no meio do jardim. Lembrou-se perfeitamente do dia em que seu pai o plantou, e em volta, aquelas flores amarelas que ainda estavam lá como se fosse ontem.
Em sua memoria veio seu pai, gordo e sorridente, parando seu fusquinha cheio de compras anunciando sua chegada com seu famoso assobio; e lá vinha seu cachorrinho pequinês correndo alegre, dando voltas no jardim.
Na cozinha sua mãe, cabelo arrumado, batonzinho básico, avental branquinho, de costas para a pia, fazia aquele famoso bolo de batatas enquanto aquele cheiro delicioso se espalhava pela cozinha.
No meio da tarde, ouvia a voz delicada de sua mãe conversando com seus antúrios vermelhos que brilhavam à luz do sol, enquanto, no quintal, as roupas dançavam no varal emanando aquele cheiro de roupa limpa.
Na hora de dormir aquele coro de “bênça mãe!” “bênça pai”, e, enquanto eles não ouvissem a resposta, às vezes até mau humorada pela insistência - não conseguiam dormir. Naquela enxurrada de lembranças sentiu duas lágrimas escorrerem em seu rosto.
- Mãe, por que você esta chorando? - sua filha perguntou, puxando sua saia, com seu rostinho preocupado. Lucia abaixou para arrumar seu cabelinho, pegou-a em seu colo e deu-lhe um beijo no rosto. Se ela dissesse que chorava por amor, ela não iria entender naquele momento.
Seguiu andando pela calçada tentando sorrir acenando para o português da padaria.