O homem da face sombria - O CASO SICÍLIA

O CASO SICÍLIA

Existem coisas que não saem de nossas cabeças. Lembranças de um passado distante, onde o mundo era mais saudável de se viver. A paixão que eu tinha e já não sinto mais é uma das coisas que mais me fazem falta. Juliana e Carol foram os amores da minha vida. Hoje vivo em um romance estranho com a gata, mas Carol ronda constantemente minha vida, mexendo comigo e brincando com meu viajante das trevas, que não vê a hora de acertar as contas com a sottocapo da máfia siciliana.

Um mês havia se passado desde o último caso. Estávamos Joey, eu e a gata conversando na sala, quando recebo uma ligação de um número privado. Era a Carol, estava com seu sotaque siciliano ainda mais forte. Disse que precisava de ajuda, mas que deveria ser somente eu a ajudá-la. Falou que ligaria novamente contando os detalhes e que dinheiro não seria um problema.

Compartilhei o assunto com minhas associadas, que se interessaram sobre os valores altos que possivelmente poderemos ganhar, mas a gata conhece a sua família e não gostou nada da ideia de eu ir sozinho visitar os mafiosos no exterior, mesmo eu sendo um intocável.

Havia muita coisa em jogo, em especial a vida de pessoas que me cercam, como Joey, Lancaster e a Bárbara. Todos estavam sobre a mira de uma arma prestes a disparar. Não estava sendo chantageado, no entanto queria esse momento para fazer algumas exigências a minha ex-noiva e mafiosa que comanda a máfia já algum tempo.

Eu sabia o que ela queria, sabia dos meus riscos e sabia também que não poderia pôr em risco a vida de minhas sócias nesse caso.

Ainda aguardava o segundo telefonema, o qual eu saberia qual seria o serviço que a Carol precisava que eu realizasse. Sei que deve ser um trabalho que me exigirá total dinamismo de minhas faculdades mentais, com tudo estou preparado para qualquer que for o assunto.

Joey entendia o risco de um caso em que eu estaria exposto a membros da máfia e a gata se enciumava com o fato de eu rever Caroline Denaro. O pai da gata, o Barão, preveniu a gata de que uma reunião para eliminar nossa equipe havia sido realizada sem que a Carol ou Don Denaro soubessem, isso mexeu com ela, pois o tema era a eliminação de nossa equipe de forma rápida. Deveria haver consenso, entretanto dois votos contra acabaram impedindo um ataque a nossa equipe.

As coisas acabaram fugindo do controle quando a gata pediu para não participar mais dos negócios da família para se juntar a mim e a Joey em nosso negócio de consultoria particular. Acabei estragando muitos dos negócios da família Denaro em Novo Hamburgo e isso mexeu com todos os chefes do submundo.

Minhas investigações foram além das que Tamara, minha ex-parceira, havia ido quando tentaram matá-la em sua própria casa.

Os dois chefes da família de mafiosos que votaram a nosso favor foram a famigerada Estefani, antiga atiradora chefe do pai da gata e o próprio Barão. Os dois por respeito a gata e seguindo as ordens da Carol onde ela deixa claro que não deveriam nunca me agredir, decidiram pelos votos que vetaram uma chacina em minha casa. Isso levaria a morte da própria gata, Barão e Estefani reagiram como uma afronta ao debate o que gerou um desconforto entre os chefes da família na região do Vale dos Sinos. O Barão que era primo da Carol, entrou em contato com ela na Itália, ela se enfureceu, mas não poderia fazer nada no momento, pois a família dela na Sicília estava em atenção máxima. Estariam na eminência de um ataque orquestrado por um grupo neonazista, que se infiltrava cada vez mais nas regiões da Itália onde a família Denaro explorava seu ramo mafioso de negócios, em especial nas regiões portuárias, onde o transporte de obras, joias e o contrabando eram fortes enriquecedores do clã.

Estavam todos em um linear de guerra entre a máfia Siciliana e os neonazistas quando a notícia da reunião sobre nosso destino chegou até nós por intermédio da própria Estefani em uma ligação para a gata de um número privado.

Tanto a gata como Joey se sentiram intimidadas com o teor do assunto. A gata então começou a dizer os nomes dos seis chefes da família que votaram por eliminar a nossa equipe. Um nome me soou com estranheza e meu viajante das trevas despertou seu mais profundo furor diante de tal afronta. O nome em questão era Jamil, uma figura do passado que eu conhecia. Minha reação foi de extrema raiva, meus dedos adormeceram, meu olhar de ódio ficou evidente e não demorou para a gata perceber em meu semblante as minhas intenções com Jamil. Ela me pediu calma e cautela, então respirei fundo e disse para continuarmos nosso trabalho normalmente até tudo se acalmar no submundo.

Estávamos monitorando as movimentações de Jamil a distância por intermédio da Estefani. Ficamos assim durante algumas semanas, entre um caso e outro sem envolvimento da polícia de Novo Hamburgo.

Em uma tarde qualquer de um dia aleatório, destes de calor ameno, fui surpreendido por um novo telefonema privado de Caroline Messina Denaro, ela enfim pediu que eu fosse a Itália onde ela mora com sua família resolver um caso. Ela expressou todo o meu valor em sua vida e disse precisar de meus serviços para identificar o nome e o local onde o líder neonazista que quer confrontá-la pelo poder dos negócios nas regiões onde sua família tem negócios. O serviço era simples, contudo, ela me quer lá sozinho. Foi difícil convencer minhas parceiras de que eu iria para a Sicília, ajudar minha ex-noiva e que faria isso sozinho. A preocupação com minha morte era evidente em Joey, no entanto na gata a preocupação era de que eu não voltasse e passasse a trabalhar com Carol e o próprio Don Denaro.

Após muita conversa e ligações acertamos que a atiradora de Estefani de nome Sara Cortez iria me acompanhar, servindo-a de guarda costas, no caso de uma traição por parte de algum membro da família Denaro. Carol pagaria por toda a viagem e seu desespero para que eu solucionasse o caso era evidente. Ela estava aflita por sua família estar exposta a um grupo militar que almejava o poder e os negócios de seu pai.

Decidi ajudá-la por puro interesse, uma vez que era uma oportunidade de voltar a ficar frente a frente com Carol e conhecer o capo da máfia siciliana.

No dia do voo esperei por Sara em minha casa. Todos a chamavam apenas de Cortez, ela era mexicana de nascença e veio para o Brasil com dezoito anos junto de sua família. Seu pai trabalhava para o cartel de drogas no México e veio fugido de seu país natal para não ter sua família morta. Cortez aprendeu o trabalho do pai e logo começou a ter fama no submundo do tráfico no Rio Grande do Sul. Tão logo ela tenha criado notoriedade no crime, foi convidada a participar da equipe que garantia a segurança de Estefani em São Leopoldo após ter uma pessoa importante da sua vida morta por mercenários. Foi crescendo de cargo até assumir a chefia da guarda de Estefani. Servia para absolutamente tudo na vida dela, até mesmo em questões delicadas como no dia em que decidiram o destino meu, da gata e de Joey.

Ela apoiava nossa equipe embora Estefani sempre mantenha uma desconfiança sobre mim, pois como ela e a gata sempre foram muito ligadas, ela sabe de muitas coisas ao meu respeito. Muitas pessoas sabem o que eu fiz e faço, embora minhas últimas mortes não tenham sido descobertas, meu passado ainda é um mistério para muitos, mas não para todos. A gata e algumas pessoas ligadas a Carol sabem demais a meu respeito. E estava na hora de alguns sumirem de vista para sempre.

Cortez não era de falar muito. Era uma mexicana nata, tanto em sua cor de pele, olhos um pouco puxados e cabelos lisos, quanto na sua postura e personalidade. Seu corpo era como de uma atleta de artes marciais. Se vestia de modo que as pessoas notassem seu corpo, embora não demonstrasse interesse em relacionamentos. Nas poucas vezes em que falamos ela dizia que a solidão era sua maior amiga e eu a entendia por que meu viajante das trevas só está em paz quando estou sozinho.

O voo teria escalas e seria demorado, como odeio aviões tomei um relaxante muscular para dormir parte da viagem. Já era noite quando acordei com Cortez dormindo com sua cabeça escorada em meu ombro. Eu a acordei, estávamos sobre o oceano e já não podíamos dar meia volta com o avião e retornar. Conversamos um pouco para me distrair, ela não tinha muito assunto. Sua melhor narrativa era falar de sua família e de seu legado com Estefani.

Pude saber um pouco mais da vida de Estefani e de Cortez e entendo melhor os negócios da família Denaro no sul do Brasil. Don Denaro já havia vivido no Brasil na cidade de Garibaldi e foi onde seu império no Rio Grande do Sul começou. Barão que é seu sobrinho, assumiu os negócios quando ele voltou à Itália. Naquela ocasião sua mulher daria à luz a Caroline e ele nunca mais pôs os pés em solo brasileiro.

Chegamos enfim em nosso destino. A Sicília, a maior ilha do Mediterrâneo, fica ao sul da Itália. Repleto de lugares históricos como o Vale dos Templos, os de 7 templos gregos monumentais e a antiga capela real na capital, Palermo. No Leste você ainda encontra o vulcão Etna, um dos vulcões ativos mais altos da Europa.

Saímos do aeroporto de Palermo e fomos em direção ao norte da ilha, numa região onde ficava a comuna italiana de Messina. Essa comuna deu origem a um dos sobrenomes de Carol e era lá nessa cidade onde ficava a sede de sua família. Uma comuna italiana é uma comunidade independente que possui uma organização territorial e administrativa. Essa comuna pertence a uma província que fica em uma região. Messina então é uma comunidade na província que leva o mesmo nome da região do norte da Sicília com pouco mais de 250 mil habitantes. Me senti em casa pois Novo Hamburgo tem quase o mesmo número de habitantes.

Embora eu já tenha amado Carol e seu jeito explosivo, eu não simpatizei com o povo siciliano, uma vez que eles eram um povo exaltado e que falavam alto, pareciam que estavam sempre brigando, gesticulando com o dedo em riste, mesmo que estivessem apenas numa conversa amigável, era difícil saber o seu comportamento se era hostil ou não.

Chegamos enfim à casa da família Denaro que se situava próxima a uma catedral. Logo na entrada seguranças vieram ao nosso encontro. Nem eu e nem Cortez sabíamos siciliano ou italiano e os seguranças pareciam exaltados ao verem a arma de Cortez. Foi aí que um deles recebeu uma mensagem com voz feminina no rádio que me soava familiar. Era Carol, mandando que nos acompanhassem até ela. Um gelo tomou conta da minha espinha, senti meus pelos se arrepiarem, enfim iria rever Carol, eu olhava para Cortez e ela estava fria como um bloco de gelo. Não estava nervosa e aparentava segurança em seu andar. Ela me olhou e piscou com um sorriso maldoso dizendo para não me preocupar que ela estava do meu lado.

Uma loira lindamente com olhos azuis caminhava pelo corredor em nossa direção, era ela, Caroline Messina Denaro, minha ex-noiva que me deixou no Brasil para tratar de assuntos de família na Itália. Ela me abraçou sem dizer nada. Apenas me abraçou forte, seu perfume era o mesmo, seu abraço reconfortante também, sua boca quente de lábios carnudos a me beijar no rosto me fez abraçá-la ainda mais forte. Os minutos agarrados matando a saudade um do outro pareciam que duraram várias horas, então nós nos soltamos e pude ver uma lágrima caindo em seu rosto enquanto sorria.

- O que houve? – Pergunto eu, já que nunca havia visto ela chorar.

- Nada, só uma grande alegria de poder lhe receber na minha casa e em meu país, sem precisar fingir que não sabemos o que fizemos no passado e o que temos feito no presente. É reconfortante ter você em meus braços e sentir a doçura de seu beijo, mesmo que este tenha sido na minha face e não na minha boca, como quando nos despedimos pela última vez. Meu coração tem sofrido por anos até saber o que você tem feito de sua vida. Eu o protegi, ajudei você quando achou que não haveria mais saída. Sei tudo sobre sua vida, sua família, seus amigos e sócias de trabalho, assim como seu relacionamento com minha afilhada Amanda, a qual vocês chamam deploravelmente de gata. Eu senti tanto a sua falta e esperava que esse momento chegasse no Brasil com a gente voltando, nos casando e sendo felizes como nós pretendíamos fazer num momento de nossa história, mas eu me curvei a meu destino nos negócios de meu pai e aqui estamos, você preste a realizar um serviço para mim o qual eu quero agilidade em troca de todo o meu carinho por você e uma grande recompensa.

- Estou aqui por você e porque quero respostas.

- Sim, sua cabeça deve estar cheia de dúvidas e eu vou responder à todas, no entendo Benjamin, meu querido, eu queria que começasse seu trabalho o quanto antes. Preciso do nome e onde se esconde o chefe dessa guerrilha neonazista que tenta se infiltrar em nossos negócios e os tomar para si. Eu os quero mortos, mas não quero que vocês os matem e sim nossa família irá exterminar todas as pessoas desse grupo.

- Muito bem Carol, quero poder ter carta branca para acessar seus cômodos e fazer perguntas a seus subordinados e se alguém tentar nos ferir a Cortez fará o que sabe fazer de melhor, matar quem tentar nos agredir.

- Então essa é a Sara Cortez? Estefani me falou muito bem de você minha cara. Sim Benjamin, você tem todo o acesso que precisar, menos o escritório onde meu pai recebe seus clientes e amigos.

- Tudo bem.

Um ar mais leve tomou conta do cômodo onde estávamos, mesmo assim por questões de segurança eu e Cortez iríamos nos alojar em um hotel nas proximidades da cidade. Sara Cortez não gostava de surpresas e eu detestaria ter que matar alguém dentro da casa dos Denaro.

Carol nos mostrou toda a casa e apresentou todos os funcionários. Eram todos respeitadores e se sentiam intimidados por nós. Houve pessoas que sentiram medo e que disseram a Carol que nós trazíamos a morte em nossos olhares. De fato, eles estavam certos, as coisas iriam acabar da pior forma para algumas pessoas daquela casa e fora dela nos próximos dias.

Carol está animada e conversava comigo de forma entusiasmada como se o passado fosse nosso presente. É bem verdade que nada parecia ter mudado em relação aos sentimentos dela e suas atitudes comigo, inclusive o jeito de me olhar e o sorriso dela que me cativava intensamente.

Cortez estava segura, no entanto seu semblante demonstrava nervosismo. Eu tentei acalmá-la dizendo que estávamos seguros ao lado de Carol. Ela não saía de meu lado, por vezes até se chocava com meu corpo, ela era mais grudenta do que a Joey. Isso me incomodava um pouco, pois ela deveria ser a pessoa que me protegeria de um atentado, mas parece que eu devo me proteger sozinho.

- Quando verei o seu pai? – Perguntei a Carol olhando-a no fundo de seus olhos.

- As questões do meu pai eu resolvo Benjamin.

- Só achei que eu teria a honra de conhecer o Don Denaro. Pai da minha ex-noiva.

- Sei que errei não sendo honesta com você a respeito dos meus negócios de família, mas era preciso, caso o contrário arriscava você não me querer.

- Ou talvez te aceitasse como você é.

- Resolva meu problema e eu te coloco frente a frente com meu pai em seu escritório.

- Temos um acordo?

- Benjamin, eu lhe conheço como ninguém. Você está planejando algo muito sinistro sem eu saber. Por isso está querendo tanto falar com meu pai.

- Na hora certa você vai saber.

- Resolvendo meus problemas, não me interessa saber mais a respeito de seus negócios.

Nesse momento Cortez olhou para mim e disse para irmos embora que estava anoitecendo. Eu realmente perdi o sentido de tempo conversando com Carol acerca do que ela queria de mim. No fim a conversa serviu mais para agendar um encontro com Don Denaro após finalizar minhas investigações.

Quando eu ainda estava iniciando as investigações a respeito do Barão no Brasil, eu me deparei com algumas pessoas que não faziam parte dos mafiosos. Eram homens bem-vestidos com boinas, ternos e engravatados. Essas pessoas eram membros desse grupo a qual eu estou na Sicília para investigar. Assim que soube pelos telefonemas de Carol do assunto, me antecipei a viagem e busquei o nome do responsável que estava negociando com alguns chefes da máfia. O nome dele era Hans Friedrich, um alemão com cidadania italiana. Fotografei ele e Jamil por diversas vezes e agora em minha mente tudo faz sentido, Jamil almejava chegar ao poder se aliando aos alemães que queria dominar o território dos Denaro. Jamil tentou persuadir a todos para me aniquilar para que eu não desmantelasse seu esquema de traição, mas seu plano falhou quando não aprovaram nossa eliminação na reunião secreta. Foi então que se sentindo pressionado, Jamil resolveu se isolar, contudo sua conduta não passará em branco. Estávamos Cortez e eu no quarto decidindo o que faríamos no outro dia quando alguém bate a nossa porta. Era um homem alto, gordo, de incrível força, vestindo paletó preto e com uma pistola descansando num coldre em seu peito. Era um rosto conhecido, já havia visto ele naquele dia, seu nome era Luigi Passini. Ele era um dos seguranças mais leias de Carol.

Em um português não muito bom ele pede para que abríssemos a porta, Cortez logo respondeu questionando o porquê de ele estar ali enquanto eu confirmava com Carol se havia mandado seu segurança até nosso quarto de hotel.

Depois de verificado deixamos que ele entrasse.

- Por que está aqui Passini? – Pergunto eu.

- Para falar sobre o caso mais detalhadamente, como a madrinha me pediu.

- Entendo, diga a ela que de manhã terá um dos nomes e o outro que é líder do seu grupo rival eu darei em três dias se eu chegar a um acordo sobre o que faremos a respeito dos traidores do Brasil que integram a família Denaro.

- Como é possível que já saiba de algo estando a algumas horas aqui? Estamos a meses tentando saber o paradeiro e o nome dos líderes não encontramos nada.

- A algum tempo venho investigando a família Denaro o que me levou a um grupo de traidores que conspiraram contra mim para se filiar a esse grupo neonazista que se opõe a vocês aqui na Sicília. Então um nome não foi difícil descobrir, já que este esteve no Brasil e foi fotografado se reunindo com os chefes dos Denaro em Novo Hamburgo.

- A madrinha não irá gostar disso detetive.

- Meu caro Passini, deixemos a reação dela para outro dia e me deixe trabalhar. Tenho em mente que no decorrer destes três dias eu darei toda a prova de que ela precisa e Cortez vai analisar os locais onde ficam os depósitos de armas e seus principais líderes, então daremos tudo a vocês para que façam seu trabalho.

- Sim, direi a ela que falei com você e que irá se dirigir a ela em até três dias com bons resultados. Cortes com suas licenças estou indo embora, passar bem detetives.

Cortes fez um aceno com a cabeça enquanto descansava sua mão que permaneceu todo o tempo sobre sua arma. Ela realmente não confia em ninguém e isso era um alento para mim. Ela estava fazendo bem o que veio fazer aqui.

Dormimos eu no sofá e Cortez na única cama que tinha naquele quarto. Ela acordou cedo e me acordou com um leve chute nas pernas. Eu abri os olhos devagar enquanto ela me estendia com a mão uma xícara de café. Eu aceitei, mas ela ficou sem falar por algum tempo, até que quebrou o silêncio.

- Pode confiar em mim Benjamin. Não sou sua inimiga. Quando Estefani me designou a pedido da gata para assegurar sua integridade aqui na Itália, eu já sabia quem era você e o tipo de monstro que você tem por dentro. Todos temos um passado sombrio e o seu é tenebroso. Eu digo isso porque não me importo, não dou a mínima para o que você fez ou quem você é agora. Eu quero aprender qual seu método, quero que me ensine para nunca ser pega. Pode fazer isso por mim?

- Claro, posso sim. Eu sigo um código de conduta de nunca matar inocentes, contudo meu viajante das trevas me leva a ser maligno e torturante quando matamos, existe uma raiva dentro de mim que me impede de ter sentimentos ou culpa. Sou incapaz de sentir clemência por quem eu vou matar entende. Isso me permite fatiar minhas vítimas e sepultar em locais de difícil acesso. Lugares onde sei que ninguém chegará para ver os mortos deixados lá.

Vi que Cortez escutou o que queria ouvir, veio até perto de mim e falou em voz baixa em meu ouvido.

- Me ensina? Deixa-me ser sua. Deixa-me aprender com você. Seja meu professor. Eu serei eternamente grata e fiel a você.

- Sim, eu a ensino tudo que você quiser saber.

- Só nunca diga para ninguém sobre nossa conversa ou me matarão.

- Será nosso segredo.

Ela enfim me abraçou num sinal de gratidão selando seu destino comigo como quem faz um pacto com o próprio demônio.

Nos vestimos de forma mais apropriado e fomos atrás de perguntas com os membros da máfia.

Na certeza de um nome queríamos saber quem era o líder e onde estavam os depósitos de armas, drogas e munições que ameaçavam a existência da família Denaro.

Passamos a manhã sondando os funcionários, entretanto foi Passini que nos deu a informação que queríamos. Quando confrontado com o nome que tínhamos, ele nos disse que Friedrich era familiar, embora não soubesse do que se tratava. Ele nos contou que a duas semanas atrás um homem de origem germânica havia lhe procurado, queria saber a respeito de uma reunião com Don Denaro. Ele apenas respondeu que o capo não faz reunião com pessoas desconhecidas. É ele quem procura os aliados para as reuniões de negócios. Depois disso o alemão agradeceu e sumiu, mas o nome ficou gravado em Passini.

Então Friedrich esteve nos portões da casa dos Denaro, isso não era bom sinal. Cortez sugeriu contar o que sabíamos para Carol, mas eu quis aguardar um pouco mais. A intenção era rastrear até onde mora Friedrich para assim encontrar o paradeiro dos demais integrantes neonazistas.

Passini meio sem jeito ficou olhando Cortez e disse:

- Onde está seu sorriso?

- Eu o perdi a muito tempo. – Respondeu ela com olhar frio.

- Você é bela e deve ter um lindo sorriso, olhe para mim, eu me livro das pessoas e sorrio, uma pessoa que sorri pode chegar a lugares distantes e fazer muita coisa, mas uma pessoa sorridente que sabe lidar com uma arma, essa alcança o paraíso. Sorria e destrua bella donna.

- Vou me lembrar disso grandão.

Eu interrompi os dois dizendo que precisava ir falar com Carol. Passini informou que ela estaria na sala. Fui até lá e a vi sentada em um poltrona de couro antigo de cor escura. A sala pendia para uma atmosfera melancólica do século XVIII, alguns livros repousavam na parede e uma mesa de centro mantinha em destaque garrafas de vinho e taças para convidados. Algumas pessoas da família circulavam pelo local e estavam tão despreocupados com minha presença no local, que parecia que eu estava em casa.

- Alguma novidade? – Perguntou Carol se inclinando para trás e cruzando as pernas.

- Sim, tenho algumas informações. Descobri que a pessoa que se reuniu com seu pessoal no Brasil também esteve aqui e tentou falar com seu pai. Seus seguranças acabaram desconfiando e gentilmente o mandaram embora. O nome Friedrich diz alguma coisa a você?

- Não, eu me lembraria de um nome assim.

- Quando eu investiguei sua família, descobri a ligação dele com as pessoas da máfia, e julguei ser necessário tirar algumas fotos.

Mostrei tudo o que eu tinha. Com o nome ela poderia rastrear os envolvidos e descobrir tudo o que precisava, incluindo a traição de Jamil. Falou-me de um período de paz no submundo, onde todos os respeitavam. Não havia traições. Seu pai era um homem justo e não costumava cobrar valores pelos serviços prestados. Ele os fazia de bom grado em troca de fidelidade e reconhecimento. Apenas dizia que em algum dia o favor iria ser cobrado com algum outro favor e chamava a todos de afilhado. Não importava para ele se era rico ou pobre, o tratamento na sala onde recebia as pessoas era o mesmo para todos.

Eu e Carol conversamos muito naquela semana, identificamos um a um os líderes neonazistas. Alguns foram mortos e outros tantos presos numa ação da polícia italiana em quinze regiões da Itália, desarticulando o grupo que tinha interesses nos negócios de seu pai. A polícia também tinha agentes da máfia no alto escalão e para eles foi fácil e rápido eliminar os alvos. Chamaram de a noite dos mil tiros, pois diversos foram executados em suas casas durante a noite que anterior ao dia das prisões.

O fato novo era que em determinado dia eu e Cortez estávamos nos arrumando para o voo de volta ao Brasil quando Passini nos interceptou no hotel dizendo que Carol e seu pai queriam nos ver. Cortez fez uma cara de espanto e desconfiança. Disse a Cortez que apenas eu iria, enquanto ela ficaria encarregada de arrumar tudo para nossa partida.

Ainda era manhã e o nevoeiro dava um aspecto sombrio para a inesperada consulta nos aposentos dos Denaro. Passini dirigia e ao seu lado estava seu comparsa enquanto eu fiquei no banco de trás, atento aos movimentos dos dois. Para mim era fácil os eliminar, mas sabia que não fariam nada comigo. Eu era um intocável e estava aguardando uma reunião com o capo desde a nossa chegada na Sicília.

- Chegamos detetive. – Me falou Passini com a cara sorridente, que era sua característica mais marcante.

- Devo me dirigir até sala? – Perguntei já sabendo da resposta negativa.

- Não, você deve entrar no escritório e aguardar por eles no sofá e não na poltrona pois, essa é do senhor Denaro.

- Sim entendo, isso seria um desrespeito certo?

- Sim, eles devem estar nos parreirais, irei avisá-los que está aqui. Fique à vontade para tomar uma taça de vinho como cortesia da família.

- Obrigado.

Ele balançou a cabeça e saiu por uma porta aos fundos. A casa tinha poucos cômodos, embora o espaço fosse enorme. Os quartos ficavam no andar superior enquanto a sala, cozinha e o escritório ficavam na parte inferior do imóvel

Entrei no escritório e permaneci em pé durante toda a espera.

Entraram os dois no escritório fechando a porta, Carol estava mais linda do que o de costume e Don Denaro era apenas um homem comum bem-vestido. Vestia terno e gravata, sapatos bem engraxados. Um cabelo já ficando calvo mostrava que tinha mais de sessenta anos. Ele tinha uma voz segura e baixa, por isso ele chegava bem próximo de quem lhe visitava. Ele chegou a alguns passos de mim.

- Então você é o ex-noivo de minha única filha. Por que não a amou? Ela não era boa o suficiente?

Carol interrompeu seu pai.

- Papa, o senhor prometeu deixar esse assunto de lado, eu já lhe expliquei que fui eu que voltei a Itália quando o senhor ficou doente. Depois disso Benjamin e eu nos separamos e vivemos nossas vidas assim até hoje.

- E perché non l'hai portato con te? – Perguntou o capo a sua filha em um bom italiano.

- Perché non sapeva che ero un mafioso. – Carol responde.

Don Denaro sabia brasileiro, pois passou um período no Brasil quando ainda era jovem, deste modo, estarem falando em italiano me incomodava, devido ao fato de eu não saber a língua falada por eles e por eles estarem falando de forma exaltada próximos um do outro.

O senhor Denaro veio até perto de mim e em brasileiro começou a conversar educadamente comigo.

- Seu nome filho?

- Benjamin Hansen.

- Você tem família no Brasil?

- Sim, mas eu a deixo longe dos negócios como forma de proteção.

- Sim, eu entendo o que diz. Então você já é um homem muito rico na vida, pois respeita seus familiares. Entenda não me queira mal, eu sou de família humilde e tudo o que conquistei na vida foi a duras perdas, contudo minha maior riqueza é o respeito de minha família e meus amigos.

- Estou certo de que seja muito respeitado por todos e que sua família é sua bem mais importante.

- De fato detetive, contudo você veio até nós a pedido de minha única filha, ela é uma bela mulher e sei que já foi seu noivo, o que me levou a curiosidade de querer saber se veio pelo trabalho ou por ela.

- Vim por ela, descobri a algum tempo traidores na sua família e descobri como vocês agiam, decidi deixar que ela viesse até mim, porque foi ela que se foi sem um último beijo.

- Claro ela me falou.

Don Denaro me pegou pelo ombro e continuamos a conversa enquanto caminhávamos pelo escritório repleto de livros e coisas antigas.

- Você resolveu as questões de meus inimigos, estou certo disso, pois eu mesmo dei a ordem para varrê-los da face da terra. Agora você me deixa em dívida com a sua pessoa. Me diga Benjamin, quanto eu devo lhe pagar? Um milhão de euros? Dois quem sabe?

- Não há necessidades de pagamento em dinheiro Don Denaro, apenas quero seu respeito já que tem o meu pela bela educação que você tem, a qual transmite com ensinamentos a Carol.

- Você tem meu respeito filho, assim como o amor de minha filha. Não é nosso costume dever favores. Quem deve favores fica submetido a pessoa que nos cobrará sempre em um momento inoportuno. Diga agora, para mim e minha filha, como devo retribuir o favor.

- Esperava ansioso por essa oportunidade de demonstrar minha capacidade investigatória, para num futuro oferecer meus serviços no Brasil, para continuar próximo a Carol e isso deduzo que já conquistei provando meu valor, contudo para nos deixar quites gostaria de sua palavra que nada acontecerá com algumas pessoas que trabalham comigo.

- E quem seriam elas. – Carol o interrompe grosseiramente.

- Papa, você não está pensando em fazer à vontade dele. Meu amor por ele e os negócios da família estão acima das pessoas que ele quer proteger. Ele já é intocável e ninguém mais precisa ser. – Ela disse isso e se calou quando os olhos de seu pai a miraram condenando seu comentário.

- Diga, quem são essas pessoas detetive?

- Tamara, Joey, Bárbara, Lancaster, Cortez que me acompanhou aqui nesse período da investigação e a Amanda, a quem chamam de gata que também é filha adotiva de seu sobrinho o Barão.

- Muito bem, Carol mande Passini e um grupo de mercenários ao Brasil para garantir a segurança de todos.

Carol acenou com a cabeça e foi ao canto do escritório falar ao telefone, enquanto eu me aproximei do capo e falei em voz baixa.

- Como último pedido eu quero que elimine seus seis chefes no Brasil que tentaram lhe trair e tramar minha morte por eu saber do grupo que queria tomar seus negócios.

- Isso já está sendo providenciado meu caro.

- Contudo quero cuidar do Jamil pessoalmente junto de Cortez.

- Sei de seu histórico, minha filha me contou. Se quer seu amigo traidor, pode fazer o que bem entender, mas suma com o corpo, sei que você sabe fazer isso muito bem.

- Com certeza.

Don Denaro olhou para Carol com ar autoritário dizendo:

- Diga a Passini que faça um esquema de forma que o Benjamin e a Cortez fiquem sozinhos com Jamil. Esse rapaz já causou muita dor de cabeça a família.

- Farei isso com a mais urgência possível, tratarei dos detalhes com o Ben quando retornarem ao Brasil.

- Quero você acompanhando de perto tudo.

Ela balançou positivamente a cabeça à medida que seu rosto ficou rosado. Seu nervosismo de tratar tudo comigo sobre negócios da família a deixava sem jeito e a deixava em dúvidas de como lidar com a situação.

Era necessário fazer o que eu fiz. Humildemente me despedi de seu pai e voltei ao hotel. O voo partiria logo. Carol iria entrar em contato quando chegasse ao Brasil. Eu tive a permissão que eu queria de eliminar um alvo que quer me destruir e isso é maravilhoso. Poder matar e ensinar alguém como Cortez a continuar minha purificação, será o ponto mais alto de minha saga em busca de justiça.

Era passado das onze da noite quando enfim chegamos no aeroporto Salgado Filho. Pegamos um trem até a cidade de São Leopoldo, vizinha de Novo Hamburgo e ficamos em um hotel, Cortez estava ansiosa, mas se mantinha calada. Ela não era de falar muito, mas seu gestual dizia muito sobre a sua frieza e ansiedade. Ela me pediu que eu a ensinasse como não ser pega e eu iria cumprir o que prometi a ela.

No dia seguinte eu expliquei a ela que deveríamos seguir uma rotina, cada um faria a sua própria para não ser descoberto. A minha eu aperfeiçoei por anos e hoje meu método de agir não contém falhas.

Sugeri minha forma de atuar a Cortez que demonstrou fascínio com a forma que eu desenrolava o enredo mortal que me cercava nos dias em que meu viajante das trevas tomava conta do meu ser.

Cada um tem o seu próprio mensageiro sombrio escondido em si, contudo somente alguns poucos são capazes de disparar o gatilho do tormento assassino que nos faz matar. Alguns adquirem isso desde novos como eu e são frios capazes das maiores barbáries sem sentir culpa. No meu caso o planejamento e a execução eram perfeitos e os corpos jamais encontrados.

A técnica de Cortez era apenas atirar na nuca e mandar seus capangas subordinados a ela sumirem com o corpo, mas o problema era que muitas vezes os cadáveres eram encontrados e quem tocava os mortos acabavam presos. Estefani sua chefe ficava muito irritada quando acontecia esses ocorridos e foi então que se deu essa oportunidade.

Estefani estaria me devendo um favor e sei como os membros da máfia entendem o valor de um favor cobrado.

Naquele mesmo dia Carol chegou e foi se encontrar com Barão, seu primo e responsável pelas ações de todos os chefes designados pelos Denaros no Rio Grande do Sul. Assim como seu pai, Carol zelava pelo respeito familiar e terem descumprido suas ordens de não me fazerem mal e tramarem pelas suas costas a minha morte, era imperdoável para ela. Seguindo as ordens de seu pai, ao meu pedido como pagamento do favor prestado a família, quem quis o meu fim acabará desaparecendo. Carol só podia confiar no Barão e em Estefani e isso a desagradava muito, uma vez que os outros seis chefes destinados a cuidar dos negócios deveriam ser executados.

Naquela noite eu e Cortez saímos para procurar Jamil, encontrar com seu olhar e sujar de sangue as nossas mãos. Ao mesmo tempo uma reunião estava sendo feita na casa noturna do Barão onde os seis traidores seriam envenenados e seus corpos queimados em pneus em meio a escuridão que se fazia presente naquela noite.

Como se estivesse uma coroa de espinhos penetrando em minha cabeça naquele momento crucial, eu desejei por um instante estar num mar de angústia, sepultado por rosas negras, mas estava à espreita do ser mais desprezível que conheci. Os meus olhos estavam sedentos de ódio e meus dedos ferozes queriam uma morte dolorosa para Jamil. Cortez me vigiava com o canto dos olhos se perguntando o que passaria em minha cabeça naqueles momentos que antecedem a morte do traidor.

Eu queria que tudo terminasse de forma rápida, mas prometi ensinar Cortez a fazer um trabalho limpo.

Mostrei a ela o galpão e como fazia para forrar tudo com plásticos e filmes de PVC para que o sangue não suje o lugar onde iríamos matar Jamil. Contei todos os pormenores enquanto tratávamos de como atrair Jamil para o carro de Cortez de forma que ele embarcasse sozinho. Pedimos auxílio a Carol para dizer que Cortez o pegaria em casa para uma reunião com todos na casa do Barão.

Ninguém me viu no banco de trás do fusion preto de Cortez, nem mesmo Jamil que embarcou sem seus seguranças na certeza de que Cortez o protegeria de qualquer contratempo. Ele não esperava que tudo era um plano bem tramado para que pudéssemos matá-lo. Conforme o veículo andou eu me ergui no banco de trás do veículo as costas de Jamil, peguei uma corda e passei em seu pescoço, fazendo com que ele desmaiasse. Paramos o carro e amarramos as pernas e as mãos dele. Também o amordaçamos para que ele não pudesse pedir ajuda. Com ele deitado no banco de trás fomos até minha casa, onde iríamos julgar Jamil e dar um fim na sua vida de crimes e traições.

O galpão já estava forrado com filmes plásticos e sacos. As embalagens onde iriam os restos mortais de Jamil também estavam separados juntos ao peso e ao bote inflável.

Chegamos a minha casa por volta das dez da noite, abri o portão e o carro de Cortez entrou até a metade dos cinquenta e dois metros de comprimento do pátio. Tiramos Jamil do carro e o levamos até o galpão onde nós o colocamos numa mesa com um leve declínio. Essa mesa servia para o sangue escorrer em um balde para sujar o mínimo possível o local de sangue quando fossemos cortá-lo em pedaços que coubessem nos sacos de farinha com os pesos.

Enquanto eu amarrava Jamil na mesa, Cortez se encarregava de carregar o carro com o bote e os remos. Havia prazer nos nossos olhares que se cruzavam a todo o momento. Era algo mágico para eu sentir tudo aquilo e poder dividir aqueles momentos finais da vida de Jamil.

Nunca senti tanto prazer em matar alguém. Eu ensinei tudo o que sabia a Cortez e ela compreendeu de forma magnífica. Estava feliz por mais uma vez tirar um inimigo do caminho, extinguir o mal que circulava as pessoas que eu gosto, amo e admiro. Nenhuma maldade será feita com aqueles que eu prezo valores incondicionais.

Jamil deu seu último suspiro com minha navalha afiada penetrando seu coração. Nenhuma última palavra, apenas um silencioso adeus. Nada mais de mentiras ou súplicas, tudo que se ouvia eram os sons da noite. O fato estava consumado e no decorrer da noite, antes do amanhecer, o corpo de Jamil estaria em pedaços no fundo do rio dos Sinos.

Carol, Barão, Estefani e a gata que se encarregaram dos outros seis, também tiveram sua noite agraciada com um fim apropriado aos traidores da família Denaro.

Banhei minha mão de sangue mais uma vez. Cortez ficou ainda mais próxima a mim sabendo que não há mais segredos entre nós. A confiança era mútua e consegui mais um aliado na busca pela purificação. Meu viajante das trevas, esse mensageiro da morte que me puxa e impulsiona a matar se satisfez com Jamil. Fomos para casa todos contentes com o desfecho das ações que intercorreram naquela noite pútrida e maculada.

Jamil foi minha décima nona vítima e parece que meu futuro a cada dia mais, está vinculado ao meu passado.

Ubiratã Hanauer
Enviado por Ubiratã Hanauer em 20/10/2022
Reeditado em 12/04/2024
Código do texto: T7631926
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