O ideal
Eram 9 horas da manhã e a temperatura já passava dos 30 graus centígrados. Para a tarde chegaríamos a 40 graus centígrados com facilidade. Temperatura comum na Baixada Fluminense. Comum também era a beleza de Ângela, mas incomum aquele seu vestidinho. Vestidinho que desenhava suas curvas perfeitas. Um paradoxo era o seu perfume, inda mais quando caminhávamos pelas ruas sujas e fedorentas da Baixada Fluminense. Eu ficava irritado com os olhares obscenos dos homens em cima de Ângela. Eu me sentia impotente, pois não tinha a capacidade de dar à minha mulher a vida digna que ela merecia. E não falo da pobreza, mas do ideal. Sim, o ideal era indigno de sua beleza, de seu amor, de sua vida. “Ah, meu amor, isso não importa, eu o amo!” Ela dizia, mas isso era coisa minha, isso de ideal.
Na esquina das ruas T. e M. nos despedimos. Eu a acompanhava com o olhar até ela passar pela entrada do prédio que trabalhava como recepcionista. Ficaríamos mais de 8 horas sem se ver e eu seguia agora para o meu trabalho, trabalho que não me fazia aproximar do ideal. Seguia em meio ao mar de gentes iguais, de ruas iguais, de ideais mortos.