O Consciente, A Busca...
O Consciente, A Busca...
Há pouco caminhando, encontrei um homen, cabelos brancos, face enrugada, pele suja da labuta na roça, fala rouca/calma pela fadiga do tempo. Este olhava-o em silêncio como se esperasse uma resposta...
Então perguntei:
- O que tanto olhas?
- Não vê! Estou olhando o horizonte!
Com uma risada no canto da boca voltei a perguntar:
- O que tem além do horizonte, senão uma linha imaginaria...
Ele, com a simplicidade de uma vida de conhecimento, olho-me e disse:
- Vejo um mundo de experiências em sua infinita sala de aula, onde perguntas são feitas, e, respondidas pelo teor elaborado, às vezes mal respondidas por medo de encarar-mos tais respostas, mas, que se responde...
Dos amores, que, o destino encarregou-se de separar para suprir outros, olhares cegos pela vida que se formou, confrontando-se desesperado buscando incansavelmente ser visto por entre tantos perdidos...
Sem entender-lo, deixei-o em seu momento, segui a estrada sem destino certo...
Por horas caminhando, de caminhada pesada, e, com tamanha sede, sentindo o ar fresco, pensei:
- Corre um rio por aqui!
Avistei o rio, parei a beira do mesmo, afim, de molhar a garganta. Olhei para o lado, deparei-me com uma mulher agachada que lavava suas mãos...
Aproximei-me e perguntei:
- Boa tarde, o que faz uma mulher, a beira deste rio, neste fim de mundo?
Ela, com o olhar que transmitia a natureza, disse-me:
- Estou a lavar as mãos, não vê!
- Lavando as mãos. Disse com tom sarcástico.
- Sim. Respondeu afirmando...
Levantei-me, e, quando já ia, ela falou...
- Deveria se juntar a mim, sinto que o curso no qual conduz sua vida, o esta matando, levando nestas correntezas o que de mais belo existe, então, sim! Deveria sentar e lavar as mãos, assim, e, não de outro jeito chegara até sua alma com mais amor, deixando as margens da nascente da sua vida, a ira, aprendendo com o fluxo deste a perdoar, ainda que, não saiba pedir perdão...
Sento-me aqui para lava-las, assistir o curso da água e seus movimentos, de alguma forma, sinto-la lavada de magoas, preconceitos, dores causadas a outrem, desse modo retorno para casa em paz...
Fiz-lhe outra pergunta:
- Onde moras, se a quilômetros não existe vestígios de morada?
Respondeu-me com a mesma calma com que descia o rio:
- Moro onde meu coração vaga, e, abrigo em meu peito, todo aquele que vier a mim sorrindo...
Naquele momento a moça levantou-se, e, se afastando seguiu seu rumo, me deixando confuso... Segui meu caminho.
Estava anoitecendo, a noite?avançou sem perguntar se devia, a frieza exigia um lugar para passar aquecido, já havia se passado horas desde o último encontro, avistando uma casa solicitei uma noite. Ao entrar percebi um velho, uma mulher e uma criança, este olhava-me atento, e, uma inquietude se fez presente, quando o mesmo sorriu, de alguma forma sentir-me ligado a este personagem, o sorriso afirmava o quanto me conhecia de tempos esquecidos pela maturidade aflorada.
Então perguntei se já me conhecia de fato?
Ele, com jeito moleque, assentiu-me com a cabeça. Alimentando a conversa perguntei de onde, já que, não me recordava...
Então postou-se a minha frente, respondendo:
- Eu sou de você, aquele sorriso há muito esquecido em fotografias, a infância escondida entre as paredes de uma casa sem amor familiar, mas, tantas palavras proferidas com ódio, rancores e magoas, a canção que brotava no peito no momento propício do amor...
Sim, as palavras faziam sentido, embora não fosse agradável ouvi-la, pois, me remetia a um tempo o qual tentei apagar, e, o tempo se encarregava de mostar. Pedi que se calasse, sentia-me cançado...
O menino sorrindo, disse mais:
- Sim, deve estar cançado, amanhã jogarar-se na primeira cama a seu alcance, no presente será infortúnio, e, no futuro, nada haverá que não a morte. O que faz de si hoje, levara consigo para sempre, nunca se arrependa do que fez, mas, aprenda com os erros para que na próxima vez em que estiver frente a uma situação adversa, tente com os ensinamentos fazer-lo corretamente. As situações são quase sempre de natureza iguais, porém, apenas os cenários e os personagem mudam, por esse motivo esquecemos de agir com cautela, iludido e nos confundindo com rostos diferentes...
Ainda com jeito sapeca, o menino, adulto em seu falar, saiu, sem nem ao menos existisse um passado.
Fiquei sentado pesando no que ouvirá, embora estivesse certo das minhas decisões/atitudes, não vi o sol nascer anunciando um novo dia, e, continuei sob a escuridão das minhas ações e pensamentos sem saída apesar da consciência em sua busca conduzir-me a ela, então, sem forças para continuar o caminho, ainda tento entender a fórmula da tão merecida paz...
Texto: O Consciente, A Busca...
Autor: Osvaldo Rocha
Data: 03/11/2002 05:08 hrs.