Tempestade lírica
Em meados do século XVI, quando Portugal e Espanha se lançaram aos mares e colonizaram porções do Novo Mundo, havia um poeta português cujo nome era Luís de Camões. O homem, durante uma viagem para o Extremo Oriente, encantou-se por uma galante moça chinesa, Dinamene. Desde então, passou a tê-la como uma musa que iluminava suas ideias e vivificava suas obras.
Dinamene era uma mulher íntegra e intensa. Suas emoções estavam sempre transbordando juntas de sua formosura avassaladora. Camões, diante de uma moça tão utópica, perdia a razão e seus sentimentos o dominavam. No entanto, essa dominação sensual não se manifestava de modo carnal no poeta, ela se revelava por meio de seus poemas, pelos quais ele tinha um afeto exorbitante. Isso intumescia a musa de ira e de ciúmes.
Numa viagem marítima que os amantes fizeram, ocorreu uma tempestade violenta. O casal desesperou-se com os balanços bruscos do navio. Parecia que iriam ser atirados ao mar bestial a qualquer momento. Camões se afligia com a possibilidade de perder sua musa ali, mas, inquietava-se mais ainda com a hipótese de perder sua grande obra. Dinamene, enfurecida ao ver o amado dirigindo-se às escrituras, empurrou Camões, abruptamente, para a extremidade do navio. O ciúmes fervia no semblante da moça. Ela, asfixiada pela cólera, arremessou seu amado aos mares com os poemas que ele tanto valorizava.
O corpo do poeta se perdera nas profundezas dos mares, assim como as lágrimas da musa, que se sentia traída. Ela conseguiu sobreviver ao naufrágio. Porém, sua mente andava confusa. A mulher não tinha ciência até aquele momento dos perigos de suas emoções instaladas em seu âmago. Dinamene, sem ter mais um poeta para inspirar, tornou a ser sua própria ninfa para aliviar-se do sentimento de culpa que a atormentava. Atiçou a sua própria criatividade e agora escreve esta trágica trama.