Dormente

Ao acordar naquele dia, teve a ligeira sensação de que nunca dormira. Ou que nunca chegara a acordar realmente. Olhava seu corpo e tinha a ilusão de ótica de que enxergava a viagem que seu sangue fazia entre os rins e o coração.

Veloz, seu sangue corria e pressionava as paredes das veias e artérias, causando taquicardia, como se houvesse alguém lhe esmurrando um tambor no peito. As têmporas pareciam pulsar e ao se olhar no espelho, via as veias da testa também alteradas.

Chorou e as lágrimas que escorreram, doíam. Pensando no sangue, na taquicardia e eteceteras, achou que chorava sangue e correu de novo ao espelho, mas só haviam lágrimas. Sorriu aliviada, mas aquele sorriso soou como uma antítese ao seu estado de espírito.

Sem teto, às vezes perco o chão. Queria morar no lugar escolhido, mas anda sem rima, triste e abatida, com esse sangue esmurrando o corpo. Sem rumo para essa hora, sem norte, sigo. O manto acinzentado descerra meu dia. Contagia meus pensamentos.