Linhas tortas, letras incertas
Vejo as letras fugindo de mim e não deixam escrito o que eu quero dizer, o que eu preciso pensar para tentar sentir-me melhor. Letras tortas em linhas incertas. Letras quase mortas de fé, e se têm fé, não se deixam enganar pelos otimismos fúteis. Fé apenas de viver e acreditar que percebe a vida. Fé em mim, apesar do sarcasmo que destilo pelas veias, pelas palavras. Fé, apesar de uma teimosa quase lágrima que nem chega a molhar minhas pálpebras, mas existe ali, quase solta, quase chorada. Quase.
Não me iludo mais achando que eu sou boa. Em mim a maldade se disfarça e vive, porque vivo, carne, sangue e ar. Toma forma de um pouco de mim, sem possuir. Sou na essência puramente humana, mas essa essência, acho que perdi de vista. Adeus inocência. Adeus dias de paz. Agora o que importa é recriar um presente qualquer que me traga uma certa paz ou um arremedo de tranquilidade.
Penso nos queridos que não vejo mais, alguns nem os tenho. Penso na morte de tudo, sentimentos, paixões, amizades, família, vida..., como uma coisa certa, ainda que distante. Penso na família como exemplo de desconstrução permanente, com seus engodos de solidariedade, m as impregnadas de inveja. Penso nas pessoas amadas, essas sim, poucas mas certas, exatas, precisas e preciosas. Penso em nada... letras que fogem de mim e não me deixam entender o que estou pensando, sentindo...
Penso em uma frase que nem lembro de quem é, mas que diz algo como "o ser amado, deixo livre e se voltar é meu, se não é porque nunca foi". Muitos dos amados se transformam em outra coisa distante de amor... somem no ar, como que sublimados, mas não esquecem de deixar um ranço qualquer na memória e um rastro de mal entendidos.
Penso nas relações que deixamos de viver num átimo, sem perceber que estamos mandando nossos barcos para longe do atracadouro e ancoramos num ponto qualquer entre horizontes desconhecidos, enfrentamos tempestades e acreditamos que estamos mais sábios depois delas. Aí que emburrecemos, meus amigos. Aí que vemos o quanto são grandes nossos enganos e o quanto somos pequenos diante da vida. Não, meus amigos. Não sabemos nada! Não somos ninguém…