Sem o não, senão...
Já pensava em tatuar um curativo nas dores, nas próprias cicatrizes, quando dançou uma valsa com a tristeza que trouxe sofrimentos à madrugada, varando a manhã, a tarde, até anoitecer e renovar na madrugada. Sentia como se uma matilha estivesse em seu encalço, esfaimada, famigerada, famélica, implacável.
Até tentou sair do casulo e borboletear, mas era dum tipo de lagarta que não deixaria a crisálida com asas perfeitas, coloridas, esvoaçantes. Teve que voltar, cabeça baixa, pensamentos revolucionários gritando em seus ouvidos: cale-se! Ora! Não fale! Não grite!
A língua seca. O corpo esquálido, mesmo com formas voluptuosas. Talvez em cada curva das ancas, das coxas, more um não. Talvez o não, o nunca sejam seu abrigo e ponto.
De que adianta tentar estender a mão? De que adianta levantar e andar. Cruza, pois, os braços. Estende então as pernas. Permaneça de cabeça baixa.
Sem padrão. Sem abrigos. Sem razão. Sem amigos. Sem não. Senão...