Des(d)enhando prisões
Cortei as asas dos sonhos que me mantiveram adormecida e fui andando jogar cinzas pelo vento. Desliguei a música que parecia esmurrar meus tímpanos e contava os passos, apenas para reafirmar que é melhor seguir com os pés na terra, mesmo olhando para o alto e avante. Voltei para casa por um caminho diferente, para não pisar novamente a mesma trilha e me prometi que trocaria ao menos os sapatos, para se acaso retornar àquele caminho, poderei pisar diferente.
Ao chegar, acendi todas as luzes e desliguei os sons para nada ecoar em meus ouvidos. Peguei o caderno e olhei aquelas linhas retas, onde sempre risco letras tortas. Decidi que escreveria pelo horizonte da pauta, desenhado grades com palavras que aprisionem minhas decisões para junto de mim e desdenhando do que não traga um leve sorrir. Talvez algemasse meus punhos à liberdade irrestrita, para nunca mais me prender.
Não há nada que se compare a coisa alguma. Tudo é tão diferente, até mesmo o que e quando se repete. Às vezes sinto que essa pauta se transmutando em grade tenha um pouco de prisão, mas aí me vem aquela sensação dejà vu de que é impossível ser aprisionada, desde que decidi que teria asas, não nos sonhos mas na vida. Decidi seguir...