Ela não era o que pensavam
Cansei de avisar que a Renata não era o que eles imaginavam, mas nunca me deram ouvidos.
Muitas vezes, percebia em seu olhar alegre uma súbita revolta quando escutava o seu nome ser pronunciado no diminutivo.
Eram dois sóis que emanavam calor, inalcançáveis e radiantes que se transformavam em um vazio gelado e terminal quando se fazia encher no ambiente os sons das letras se unindo e afunilando:
Re - na - ti - nha...
Não os julgo por nunca terem se dado conta, é que ela sabia disfarçar muito bem.
Aquele sorriso pincelado com todas as cores que o cérebro humano pode notar ocultava a sua revolta enquanto atraía mais e mais gente para a sua arte de viver conquistando as pessoas para si.
Avisei por muitas vezes e nunca pude entender o motivo de tanto desprezo.
Renata era uma menina alegre, divertida, sabia falar sobre todos os assuntos apesar de suas preferências, era comunicativa e se relacionava com facilidade.
Ninguém ligava.
Não a queriam por perto, inventavam qualquer desculpa e mudavam a direção todas as vezes que viam-na chegando.
Ela só queria ser incluída, mas eles não ligavam, e faziam questão de afunilar as letras, diminuindo-as de tamanho enquanto as prolongavam conscientemente.
Re - naa - tiii - nhaaaa...
Lá se iam aqueles sóis... mas ela sabia disfarçar.
Não se preocupe, Renata.
Você não é o que eles pintam. Você já é arte antes mesmo de chegar por essas bandas, colorida e colorindo a sua volta.
Sempre avisei que você não era o que imaginavam, só que nunca quiseram mudar de opinião e a deixavam em segundo plano.
Você sempre foi a segunda escolha para aquele monte de gente que não sabe o que perdeu.
Mas ainda há tempo de você descobrir que a Renatinha é muito maior do que eles poderiam imaginar.
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