Vontade de viver

Liliana Casso admirava muito quem era e por isso sempre estava alegre para a vida. Ouvia os pássaros e sentia imensa vontade de viver. Amava as artes plásticas e sabia que um dia seria o seu ganha pão de cada dia. Gostava de brincar de escolinha desde tenra idade, logo seus pais deduziram que essa menina tinha jeito mesmo era para ser professora, pois Liliana Casso amava ensinar os seus alunos invisíveis.

Além do mais, havia em si uma sede por conhecimento, tinha prazer em aprender um assunto novo porque tinha em mente que a sabedoria que estava nos livros e na filosofia da vida são inteiramente poderoso e quem tinha esse poder podia simplesmente voar plenamente mundo afora.

Frida Kahlo era sua paixão de vida tinha até um quadro no seu quarto para dar força para continuar a viver. Era a artista do qual defendeu a sua tese de mestrado de como a dor da vida humana pode ajudar a criatividade e transformar vidas através dessa habilidade artística.

Era uma mulher solitária, mas amava a solitude, pois em meio a seus pensamentos encontrava abrigo do qual nenhum amigo poderia lhe dar – plenitude em sua mais pura epiderme.

Vivia em função da arte ou a arte que lhe penetrava nos poros abertos da sua pele incessantemente? Era igual um Teorema de Pitágoras sem solução, mas tinha fé na vida e na humanidade, pois tinha em si a esperança que brilhava verde dentro de si.

Dentro de si havia algo maior que sua existência que era sua ânsia de querer ser além da própria existência e por fim sempre conseguia o que almejava, pois desde cedo sabia que a palavra é a fonte da vida, do viver.

Liliana amava os gatos e por isso sentia imensa vontade de ter um e acabou tendo um gato chamado Monet. Como tudo na vida dela era voltado a arte, como conseguia? Era uma neurótica atrás de um remédio para curar a sua loucura, bem que sabia que todos os artistas eram um pouco lunáticos.

Sempre buscava ajuda em psicólogos, psicanalistas e não conseguia transformar os seus sentimentos em palavras, pois sentia que algo a estava prendendo, porém sabia que a resposta estava abaixo do seu nariz.

O seu maior sonho era construir uma Ong onde ajudasse pessoas de vulnerabilidade social para sentir que estava em pertencimento ao mundo, pois do que adianta tanto conhecimento se não pode compartilha-lo com os outros? Sentia que tinha uma força sobrenatural que poderia mudar o mundo em questão de alguns minutos e por isso sempre estava em constante ansiedade de querer ser para o outro aquilo que nunca foram para ela.

Em seu interior sentia vertigens que pareciam tão reais que se sentia indizivelmente a ponto de cair estatelada no chão. Mas sentia que tinha que ser forte e buscar apoio na sua fé em Deus que era tão inabalável que contagiava quem não acreditava.

Não seria capaz de fazer mal a ninguém, pois tinha um coração do tamanho do mundo e sabia que quem é sensível sofre muito neste mundo louco em que tudo está ao contrário.

Seus pensamentos eram tão desornados que não tinha um santo sequer que o organizasse de maneira que lhe causasse paz porque só havia em si um desespero profundo que vinha do âmago. Tentava meditação, respirava pausadamente, contava cem carneirinhos e por fim a sua ansiedade só aumentava. Quando estava assim tinha a certeza que conseguiria escalar o pico do Monte Everest de uma vez.

Amava cuidar de plantas e animais, pois sentia que devia dar atenção a algo além de si mesma. Tinha amor transbordando dentro de si e ele esguichava por todos os cantos em que suas mãos pousavam. A força do amor é capaz de mover o mundo do lugar em que está e sabendo disso transmitia sem dó e tampouco piedade para quem era digno do amor.

As estações do ano estavam passando como foguete, tudo estava tão efêmero que até a tartaruga estava andando depressa. O seu pensar estava a milhão também, já estava há mais de meses sem dormir, andava pela casa buscando algum subterfúgio para a sua inquietude e não encontrava...

Liliana Casso era carente, embora tinha tanto amor para dar. Como seria o mundo em que as pessoas que mais doassem amor conseguiriam viver com alguém que a amasse verdadeiramente? Podia ser aquele romance clichê, com serenata de amor, cartas, rosas e tudo o que fosse mais piegas possível. Mas ela estava sonhando acordada e quando se der conta terá que existir algo dentro dela que provoque a mudança para surgir aquilo que sempre sonhara: uma namorada.

Ser professora de faculdade tomava-lhe praticamente todo o seu tempo livre e não-livre. Abençoada era, pois era privilegiada de ser docente na PUC-SP, mas tudo não começou do nada, foi bastante labuta para conseguir o seu lugar ao sol. Lecionava na universidade há uns 7 anos e entendia muito sobre arte renascentista, barroca, surrealista, impressionista, expressionista.

Os seus olhos brilhavam como estrelas na escuridão quando via algo sobre arte, era de uma sensibilidade genuína o seu interesse pelas artes plásticas.

Como tudo não era apenas flores, Liliana Casso sofria preconceito por ser mulher negra e lésbica. Era uma afronta ao meio em que vivia que era majoritariamente predominante por homens e mulheres brancos. Em pleno século XXI ainda existia quem julgasse o outro por orientação sexual e pela cor da pele.

Entretanto a sua imaginação era tão poderosa que todo julgamento que vinha até ela era transformado em algo bom. Levantava a cabeça, ficava ereta e não se abalava por quem nem a conhecia direito. Tinha o empoderamento em si.

E por sinal era a mais querida de todas as professoras que lecionavam em seu turno, pois as suas palavras não eram ditas de formas mecânicas, mas sim que vinha do coração, e por consequência, tocava os seus alunos na alma. Professor tem o dom de formas almas e pessoas conscientes de seus direitos, por isso Liliana Casso transformava vidas.

Só havia um empecilho para se entregar totalmente a vida, era tímida demais, introspectiva. Parecia está em um casulo no qual o invólucro era duro demais para romper-se. Mas tinha em si uma sede por comunicação interior que deixava qualquer palestrante com inveja.

A tarefa mais difícil não era conhecer o outro, mas sim, a ela mesma. Estava sempre pensando sobre a vida e sobre os seus próprios sentimentos. Quanto mais pensava, mais tinha o que pensar.

Era estrangeira no próprio mundo em que habitava e isso a angustiava de uma forma que não tem palavras para definir. Não conseguia encontrar uma definição para sua estranheza no mundo. Não adiantava psiquiatras, cartomantes, padres, pastores para entender a sua situação e ajuda-la, só ela poderia sair daquele beco sem saída que ela mesma criou.

A sua mãe Joanice Casso vivia lhe dando conselhos sobre a vida, pois via que a filha ainda era uma criança para a vida, não tinha a esperteza do mundo. Liliana Casso ficava com raiva porque sabia que a sua mãe estava certa. Não adiantava dar conselhos para quem estava alienada para a vida que acontecia em baixo dos seus olhos.

Enquanto sua mãe ficava se questionando aonde teria errado na educação de Liliana Casso, ao mesmo tempo percebia que tinha dado o seu melhor e sabia que a sua filha poderia conquistar cada vez mais coisas na vida, e logo, arrumaria um amor também.

Um amor...era tudo que Liliana Casso mais queria nessa fase da vida, pois sabia que ninguém nasceu para viver em isolamento, de modo que até as plantas precisavam que alguém lhe desse atenção. Todo ser vivo precisa ser amado e dar amor a outrem.

Monet, o seu gato vivia perto de si quando Liliana Casso estava em casa. Era um gato branco com olhos bem pretos, era tão bem cuidado que o seu pelo até brilhava. O seu nome fora escolhido por causa que Liliana amava o pintor Monet, um grande expoente do impressionismo francês.

Em sua plenitude da solidão Liliana esbanjava paz, pois acreditava que quem tem a consciência tranquila sempre fica na tranquilidade de Deus. Embora se importasse um pouco com a opinião alheia estava buscando forças na fé em si mesma, pois quem tem a autoestima em dia sempre está a um passo a frente de quem não tem.

Nem sempre Liliana Casso tinha os seus privilégios, foi uma árdua batalha para conseguir almejar as coisas que tinha no dia a dia, como: a sua casa com um belo jardim das mais variadas plantas que existiam; hortênsias, margaridas, girassóis, orquídeas. Era o paraíso que ela sempre contemplava quando acordava e sabia que ali era o lugar para a criação, portanto, tomava seu café, e logo em seguida ia pintar despreocupadamente.

Monet amava todo aquele céu na terra e espreguiçava-se por todos as arvores e arbustos. Como era bela a vida, como não poderia existir Deus se havia tanta beleza no mundo?

A vida era essa montanha russa de altos e baixos no qual Liliana Casso estava em constante busca pelo equilíbrio da vida. Era como andar de bicicleta, às vezes caia e por outras vezes pedalava com tamanha serenidade que não poderia existir nenhum problema para lhe assolar a mente.

Não existia apenas uma Liliana Casso na face de sua alma, pois dentro de si caminhavam várias mulheres que não estavam presentes para ver a vitória de Liliana Casso perante a vida, pois ela era a vencedora da própria existência, e assim ela via que valia a pena viver apesar das intempéries que a vida nos causa. Ela venceu os seus ardores, suas limitações através da sua resiliência e não pode deixar de citar também foi por causa da arte que tinha tudo o que lhe era digno para viver.