*O TUBARÃO E A ROCHA*

Sou um pescador, um homem do mar

honesto, trabalhador, leal, franco

meu nome é Antônio Miranda.

Tenho a pele queimada pelo sol

por dentro cascata do lamento

essas estrias em meu semblante

são marcas tenebrosas das amarguras.

Se pudesse escolheria uma sepultura

na planície gélida da terra!

Mas entre fique bem à vontade moço

sei que está com sede, tenho água

fresca da moringa, deixe-me tirar

o pó dessa cadeira, sente-se não fique

acanhado, não repare a bagunça

sou viúvo.

Moço o mar me deu quase tudo!

essa simples casa, onde da chuva

e do sol me escondo, a preço foi

muito alta, levando-me duas vidas

queridas.

O senhor está vendo esse retrato?

é do meu filho, nadava igual a um

peixe, uma onda furiosa lhe jogou

de encontro a uma rocha, roubando

a plenitude de sua vida.

Primeiro foi minha mulher dilacerada

por um tubarão preso na rede, bicho

impiedoso, sangrando ela gritava em

sua agonia, debatendo-se até a morte.

Era uma sombria tempestade do inferno

meu barco incomunicável em alto mar

lutei fazendo o que podia para salvá-la

não teve jeito, seu sangue foi jorrado

misturado na água salgada.

Sempre respeitei o mar, como minha

fé em Deus, gostaria de saber as origens

dessas coisas, éramos felizes o destino

foi desumano comigo, não acredito no

sorriso de novo em meu próprio rosto.

Como posso acreditar na felicidade

onde se encontrava deus nessa hora?

Acho se fosse sua família o senhor

sentiria o mesmo, não sei como lhe

agradecer por estar me ouvindo

encontro-me abandonado no meu ser

em terra ou no oceano, não sou jesus

para conversar com os peixes!

Moço, já pesquei quase de tudo nessa

vida, derramei suor com vitalidade

buscando o pão de cada dia, hoje só

pesco tristeza, amargura, saudade

sou um cego na beleza dessas águas

infinitas.

Meu menino ainda teve alguns minutos

em meu braço já arrebatado pela

a morte, o pobrezinho dizia-me pai

por favor não chore, segure as

minhas mãos , me abrace meu pai !

Estou sentindo muito frio, minhas

vistas estão escuras, não posso

ver mais nada, fique comigo meu

pai, tenho com muito sono!

e dando seu último suspiro partiu

para a eternidade, em sua letargia

da morte!

Passo minhas noites rezando

para nossa senhora dos navegantes

para proteger os pescadores que

encontram-se no mar, seus filhos

e mulheres na terra.

Moço o senhor já está indo embora?

Não tomastes nenhum cafezinho

desculpe-me, falei tanto de mim

ouviu-me o tempo todo calado

nem perguntei seu nome . . .

( obs. )

Eu sou aquele que sempre se encontrava

ao seu lado na tristeza ou na alegria,

amparando-lhe das tempestades dando

eficácia na fatalidade, em suas horas intrincadas.

Antônio Miranda . . .

Tu és meu filho!

Eu sou aquele homem que conversa

com os peixes!

SAM MORENO
Enviado por SAM MORENO em 02/12/2007
Reeditado em 25/06/2021
Código do texto: T761353
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