Triste é perder um amigo
Eu estava chegando da academia hoje e o Google fotos me mostrou lembranças de 10 anos atrás, do ano de 2012.
Era um sábado de manhã e meu pai tinha organizado um churrasco com os colaboradores da empresa na casa dele.
Entre eles tinha um amigo do meu pai que tinha se tornado um grande amigo meu também. O nome dele era Antônio Roberto, mas todos o chamavam de Roberto. Ele era motorista de caminhão.
Naquele dia eu fiquei lá no churrasco o dia inteiro, jogamos truco, dominó e conversamos muito. Roberto era um cara muito animado, já próximo dos sessenta anos.
Ele tinha se aposentado e continuado a trabalhar.
Ao terminar o churrasco todos foram embora.
Roberto saiu dali e foi em um forró com a sua mulher, em um bairro próximo a sua casa.
Na madrugada de sábado para domingo, Roberto ligou pro meu pai por volta de uma hora da manhã. Ele disse que a sua mulher tinha ateado fogo nele, e pediu socorro ao meu pai.
No caminho meu pai ligou para o corpo de bombeiros e relatou o acontecido.
Ao chegar na casa de Roberto, a mulher dele , totalmente embriagada, tentou agredir o meu pai e impedir ele de socorrer o Roberto. E para a sorte dele, logo chegaram os bombeiros, e a mulher tentou agredi-los também, com isso o bombeiro deu voz de prisão a ela e socorreu o Roberto. Na maca, Roberto entregou a chave do carro dele ao meu pai e pediu que ele retirasse o carro dali , temendo que a mulher quebrasse o carro também.
Meu pai atendeu o pedido de Roberto. E a mulher saiu dali já presa em flagrante por tentativa de homicídio e desacato a autoridade.
Roberto ficou internado no hospital João XXIII, em Belo Horizonte, por quinze dias, e não resistiu. As queimaduras foram muito intensas em setenta por cento do corpo.
Foi uma notícia triste e desconcertante.
No dia marcado para o enterro, fomos ao cemitério da Paz, e havia o nome dele na casa mortuária e o corpo não chegava. Ficamos lá até o cemitério fechar, e o corpo não chegou. Ficou para o outro dia pela manhã.
Na manhã seguinte, estávamos aguardando a chegada do corpo e a funerária passou direto e levou para o túmulo sem nos avisar, o coveiro teve que vir chamar as pessoas para o sepultamento. Uma atrapalhada em um momento inoportuno. O enterro foi de caixão fechado, apenas retiraram a parte que mostrava o rosto. O corpo já estava em decomposição, esse teria sido o motivo de adiamento do enterro.
Nunca vou me esquecer da cena das duas filhas de Roberto. Uma se chamava Roberta, e a mais nova Carol. Carol tinha um bebê recém nascido, que era o primeiro netinho de Roberto, lembro que ele falava muito desse neto. Sonhava em jogar bola com ele.
Durante o enterro, a filha de Roberto me abraçou muito forte, e não me largou enquanto não terminou o enterro.
Eu entendo que a dor da perda é terrível, mas eu conheci ela naquele dia, e fiquei com vergonha. Não tínhamos intimidade nenhuma. As outras pessoas nos olhavam de uma forma desconfiada, eu percebi. Mesmo assim a abracei e ela chorou no meu ombro.
Ela encerrou o abraço me dando um beijo no rosto e agradecendo por todo o apoio.
Eu fiquei um pouco desconfortável,tanto que na hora que fomos embora, minha mulher me interrogou de uma forma bem agressiva. Ainda tive que passar por isso.
Roberto morreu aos 58 anos. Teve sua vida interrompida de uma forma brutal. Nunca mais pode brincar com o seu neto. Nunca mais saímos juntos. Nunca mais jogaríamos truco...
Nunca mais eu ia ver meu amigo de novo.
Lembro que ele tinha planos de comprar um carro novo no final do ano, como ele tinha me falado. Infelizmente não aconteceu.
As pessoas morrem de repente e de surpresa. Deixam os planos e as expectativas todas para trás.
No dia do assassinato, saiu num jornal local, uma história toda deturpada sobre o assunto.
Eu entrei em contato com o jornal e publicaram uma nota se retratando.
Não aceitei que atacassem a imagem de Roberto, com notícias falsas, visto que ele era a vítima.
Nunca vou esquecer do meu amigo que foi embora cedo demais.
Tanta coisa mudou depois de sua partida.
Só restam as lembranças.