Tentativa e Erro

Aqui estou eu. Sentado defronte a uma mesa de vidro com papeis espalhados pelo chão e um caderno em branco tentando desvendar o mistério do milhão.

Por que perco meu tempo escrevendo histórias que jamais serão lidas pelo grande público nem pelos maiores escritores do mundo?

Ouço vozes na minha cabeça. Meio aquela cena dos desenhos animados com o anjo dizendo que devo continuar escrevendo e o diabo argumentando que devo desistir dessa loucura e viver como qualquer outra pessoa considerada sã por uma sociedade doente.

Mesmo assim, sigo tentando usar o tempo que tenho pra escrever algo de útil.

Sabe, no meu dicionário da vida sempre existiu uma palavra-chave: batalhas.

Desde a tenra infância, sempre tive que provar pra todo mundo que era capaz de fazer as coisas sozinho.

Tudo porque o médico me diagnosticou como autista e a maioria da minha família e amigos acreditavam que meu lugar era o hospício, com quartos cheios de grades e salas com máquinas esquisitas que “estudam” o cérebro das pessoas.

Ali diziam que eu encontraria os “iguais” da minha laia, ou seja, os diferentes que ninguém se importa a não ser no momento que morrem.

Felizmente, encontrei na escrita meu cavalo de batalha, meu Bucéfalo que testemunhou minhas conquistas e tristezas ao longo do tempo.

Enquanto componho essa história, o tempo passa inexoravelmente no velho relógio de parede.

E o combate continua na minha cabeça enquanto as bolinhas de papel se acumulam no chão. Mesmo com esse duelo de consciências, sigo escrevendo mesmo sabendo que meu conto não seria escolhido para a antologia.

O tempo se esgotou e o trabalho foi entregue. O veredito chegou e como esperado, apareceu a confirmação de que minha história não havia sido escolhida para fazer parte do seleto grupo que será lembrado por toda a eternidade.

Apesar da desilusão e do choro incontido, sigo lutando. Tentando e errando até que meus braços se cansem ou que meu tempo de vida termine.

Me pergunto por que continuo escrevendo se a maioria das pessoas me julga incapaz de fazer parte deste mundo. Ligo a televisão e vejo um ministro dizendo que um diferente não pode conviver com os normais.

No entanto, acredito que um dia serei vitorioso. Talvez não seja hoje nem amanhã, mas em breve e pelo resto da minha vida.

Já passei por tantas coisas nesse meu tempo de vida e venci desafios bem piores do que esse.

Os apupos, os risinhos, as provocações na rua. Respondi a todos eles no dia em que me formei na faculdade e provei que um autista como eu pode ser sim um vencedor na vida e lutar pelos seus sonhos.

Enquanto o tempo estiver ao meu lado, tentarei e errarei até conseguir a obra-prima perfeita.

De ontem, de hoje e de sempre.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 05/09/2022
Código do texto: T7599127
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