O suicídio
O dia amanheceu nublado, o sol se escondeu naquele dia .
Não ouvira os pássaros cantando, só o vento que balançava as árvores ao longe...
Da janela do quarto o cenário era triste...Já era a natureza cúmplice daquele dia que mal começaraaaa, mas alguma coisa no ar já deixava explícito que não seria um dia qualquer . .
Do quarto podia ouvir os barulhos dos utensílios e o cheiro inconfundível de café. Era minha mãe que acordava sempre cedinho ..
Era um sábado de 9 de janeiro de 1965... Que dia cruel...
Meu irmão na sexta-feira feira saiu cedinho e disse pra mamãe:
"Mãe arruma minha roupa de gala, amanhã vou precisar será um evento importante".
Ele era um guarda de elite do governador do estado de São Paulo.
Era uma farda branca com botões dourados, uma calça alinhada azul escura e um coturno preto com uma lapela branca.
Minha mãe caprichosa lavou tudo direitinho, a menina limpou os botões dourados e engraxou o coturno.
Tudo perfeito, impecável. Tudo foi deixado na cama pra quando ele chegasse....
O dia passou mais lento, mas a rotina de limpar a casa , de abanar os tapetes, de lavar o chão, afinal era sábado dia de deixar tudo mais limpinho.
Por volta das 13 horas o almoço foi servido, mas cadê o filho que não chegou ainda?
Porque passará a noite fora de casa?
As vezes fazia algum plantão.
Certamente era isso. Mas não.
Alguém bate a porta, era um amigo muito querido, chamou minha mãe no canto . Que seria essa conversa que não podíamos ouvir?
De repente um grito de dor ecoou na casa inteira, minha mãe chorava desesperada.... que teria acontecido?
Ninguém dizia nada. Minhas irmãs também choravam. Até que ouvi:
Ele se suicidou. Deu um tiro na cabeça....
Eu fiquei ali parada. Não conseguia chorar. ..as horas seguintes eu me sentia um robô.
Me levaram ao hospital, ele ainda vivia, mas sua morte cerebral já tinha sido atestada..
Nada mas podia ser feito.
Os aparelhos que o mantinham vivo, foram desligados.
Tudo corria em câmera lenta.
No velório no fim da noite ao chegar ao lado do caixão, lá estava meu irmão.
Lindo naquela roupa de gala impecável.
Os botões dourados tão brilhantes o deixavam mais bonito, seu semblante era de paz. O que será que aconteceu? Que dor rondava seu coração que não conseguiu suportar?
Porque? porquê? porque?
Essa resposta nunca aconteceu..
No sepultamento, guardas de elites fizeram as honras, uma fileira de homens fardados cruzaram no alto as baionetas e em seguida tiros foram soltos pelo ar, uma bandeira do estado de São Paulo foi dobrada em cima do caixão. Lágrimas triste rolaram pela minha face....o dia triste estava terminando. Nada nem ninguém jamais conseguiria me explicar.
Os próximos dias eu deitava na minha
cama e ficava quietinha ouvindo os passos das pessoas na rua, mas não eram os dele. Há tempos atrás eu sabia que ele estava chegando eu conhecia seus passos. Mas ele não veio, não viria nunca mais.
A cortina se fechou no silêncio da noite junto com meu coração em pedaços.
Nunca mais eu o ouviria tocar seu violão, nunca mais nós dois iríamos andar na beira do mar molhando os pés na água, nunca mais, nunca mais, nunca mais. Ficaram só as lembranças....de um dia triste demais 😢