Figueiredo com Copacabana
Atravessou a Avenida Copacabana apesar do sinal fechado, fora da faixa de pedestres, desviando de carros, ônibus e caminhões a medida que avançavam. Chegou, sabe-se lá como, do outro lado, respirou fundo e quando subia na calçada foi atropelado sem dó por uma bicicleta de entregas, caindo junto com o ciclista pesadamente no chão. Pensa que o entregador ajudou? Que nada, xingou o coitado de tudo o que é nome, arrumou a magrela e seguiu em frente. Os pedestres, nem um pouco solidários, olhavam de lado, certamente considerando um absurdo um sujeito cruzar a avenida daquela forma e não prestar a atenção em uma reles bicicleta.
Revoltado, dolorido e humilhado, lembrou que tinha horário na clínica e estava atrasado. Levantou e foi acelerado até a esquina da Figueiredo de Magalhães. Já tinha colocado o pé no asfalto para repetir a façanha de minutos atrás, mas o juízo falou mais alto e resolveu esperar o sinal verde. Ficou ali, quieto, olhando para os carros que não paravam de passar. De repente, o sinal abriu. Checou a ciclovia e, pela faixa de pedestres, disparou para o outro lado da rua. Nem chegou na metade. Foi atingido em cheio por uma viatura de uma repartição do governo do estado que, achando-se uma autoridade, resolveu passar no sinal fechado. Deu sorte! Logo atrás vinha uma ambulância dos bombeiros que parou para prestar os primeiros socorros. Tirando um contusão na perna, a consulta perdida e o susto, até que ficou barato. Decididamente não era seu dia.
Fazer o quê, não é mesmo?
(2017)