Luzia descascava batatas pensando em fazer um bolo com carne moída. Quantas coisas faziam com que ela lembrasse de sua mãe nesse momento em que amassava as batatas. Podia vê-la perfeitamente com seu avental estampadinho, os bobes na cabeça cobertos com um lenço de seda florido, suas mãos bem feitas e suaves, que não somente faziam bolos, mas carinhos tão precisados. Suspirou!
Ouviu o barulho de sua filha Sofia descendo as escadas.
- Que cheiro bom mãe! Está fazendo aquele bolo da Vó?
- Sim filha, quero deixar pronto para amanhã. Você está saindo? - perguntou.
- Vou encontrar o Otávio, mãe, estamos indo à festa da uva em Valinhos.
- Cuidado com o que bebe menina! Nada de vinho! Esta levando o celular?
- Sim mãe, mas você tem até minha localização no seu para não se preocupar! - retrucou.
- É verdade filha, mas mal sei lidar com essas modernidades - sorriu.
Sofia aproximou-se beijando-a no rosto com ternura.
- Nem precisa de localizador né, mãe? Você tem aquela sua bola de cristal! - saiu rindo, no frescor de sua juventude, batendo a porta.
Luzia limpou a mão no avental e olhou pela janela distraída. Pensou que entre localizadores de telefone, celulares, wi-fi e aparelhagens modernas, nada poderia substituir aquela bola de cristal interna que Deus sabiamente havia colocado ao criar as mães. Depois de muito tempo, o mundo descobriu chamar-se "intuição materna."
Tema: Bola de Cristal (Conto)