NOITE DE NEBLINA - BVIW

 

 

 

Era para ser criada uma passagem de saída de um sonho. Mas Nelita nem se lembrava como neste tinha entrado. Decidiu por iniciar o sonho do zero e viu-se num trem-bala que nem Brad Pitt salvava. Odiou o trem, e até o Brad que não aparecia para livrá-la de toda aquela violência. Era sonho de terror que nem com o ator ela tolerava. Saiu. Saiu fácil como num clique de saída de grupo de WhatsApp. Que alívio! Não se esquecera de como sair.

 

Ultimamente estava assim esquecida das coisas bem no meio do caminho. Bobagem aquilo de criar passagem de saída em sonho. Era uma tarde de cozinha para ela que nunca fora cozinheira de mão cheia. Lembrou da mãe que havia esquecido a receita de pudim e fizera um que saiu salgado. Precisava lhe dar uma mão, mas naquele sonho suas mãos estavam vazias. Havia uma distância entre elas e por mais que tentasse ajudar, nunca correspondia à altura desejada. Bem que a mãe devia esquecer os próprios defeitos para trás e deixar em ordem o amor de mãe para melhor sentir o amor de filha.

 

De qualquer forma, para que criar caminhos em sonhos bem no dia dos pais? - Nelita, seu pai já foi dormir na terra dos anjos onde nem acordar para um abraço desassossegado é permitido.

- Mas como não?!

- Porque anjos são diferentes. Você ainda é anjo da terra, Nelita. Anjos da terra ainda provam de sofrimento.

- É por isso que devo criar a passagem de um sonho para outro?

 

Sem obter nenhuma resposta, o sonho havia mudado e estava perdida em um nevoeiro. Nelita se esquecera de criar com antecedência uma saída. O sonho acabou, ela não acordou e a culpa ficou para uma escritora cuja cria ficara esquecida numa noite de neblina.

 

 

Marília L Paixão