Solomon e a maneira de contar histórias
Ele mancava de uma perna e já cansado de tentar andar até o Templo viu uma fogueira e alguns homens sentados ao seu redor. Pensou se tratar de viajantes comerciantes. Chegou-se a eles com certa dificuldade e pediu para se aquecer no fogo. Os homens o convidaram para se sentar com eles e lhe serviram um pouco do guisado. Aceitou muito agradecido e enquanto se esquentava e se alimentava ouvia as histórias contadas pelos homens. Percebeu que a maneira deles de contar histórias era uma maneira antiga. E quando teve oportunidade disse:
- Amigos, meu nome é Solomon. Meu pai era um antigo religioso judeu que contava-me histórias de seus mestres. E ouvindo vocês contarem suas histórias lembrei-me de meu velho pai. Vocês contam histórias da mesma maneira que ele, por acaso são vocês também religiosos?
Um homem mais velho de barba crespa e branca, respondeu:
- Não, não somos religiosos como o seu velho pai, mas somos originários de uma região que tem como costume o contar histórias. Toda nossa educação é feita dessa forma. E prezamos por nossa cultura e não deixamos nunca de praticar a oralidade de nossas histórias e assim educamos as crianças na tradição de nossos pais.
Solomon ouvia atentamente a explicação do ancião e chegava mesmo a se emocionar, pois jamais conhecera aquela gente e praticavam tradição semelhante a de seu povo, mesmo não sendo religiosos.
- Desculpe-me, meu bom senhor, mas deve estar percebendo a minha emoção em meus olhos ao ouvi-lo relatar tão linda tradição. Poderia eu também contar-lhes uma história? Uma história verdadeira que aconteceu com um mestre de meu pai?
O ancião e todos concordaram. Solomon, então contou:
- Mestre Saul foi um grande homem de meu povo e meu pai foi seu discípulo. Mestre Saul tinha como objetivo primordial servir ao Deus de nosso povo e assim poder servir de maneira adequada aos seus discípulos. Ele sempre dizia que o mestre verdadeiro é aquele que serve. E mestre Saul assim o fazia. Certa vez caiu sobre nossa terra uma grande calamidade, e mestre Saul subiu o monte mais alto de nossa terra e lá de cima clamou a Deus. As pessoas que o contemplavam de baixo viam uma grande luminosidade em volta do mestre Saul e quando ele desceu do monte seu rosto resplandecia como o de Moisés, um outro mestre de nosso povo. Seu rosto brilhava tanto que todos tiveram que desviar o olhar de sua face. Mestre Saul percebendo que a grande calamidade acabara começou a louvar a Deus, ele dançava, pulava, cantava. Todos ficaram maravilhados e todos começaram a imita-lo.
Nesse momento, Solomon se levantou e começou a dançar, pular e cantar imitando mestre Saul e todos aqueles homens que ouviam atentamente a história do jovem judeu se maravilharam, pois a história era tão maravilhosa que viam o manco Solomon dançando como um bailarino. E todos entenderam que aquela história só podia ser verdadeira e que o Deus de Solomon era um Deus bondoso e festivo. Por fim, todos dançavam e cantavam ao redor da fogueira louvando o Deus de Solomon, de mestre Saul, de mestre Moisés, de toda humanidade.