________________Zero Hora
Nunca, nunca mais Arnaldo esqueceria aquela noite na Boate Paris, quando se apaixonou por Gracinha. Embora fosse a primeira vez que a via, não a tiraria mais do pensamento. Dançaram, beberam, trocaram beijos, falaram da vida e de si como se nunca estivessem estado longe, ou sós.
Às duas da manhã, ela se foi. Do táxi, acenou com a ponta dos dedos e sumiu. Arnaldo sentiu-se vazio, o encanto da noite tinha ido embora. Como a deixara escapar sem garantir telefone, endereço, qualquer sinal? Gracinha virou obsessão. Em pensamento, sentia-lhe o rosto suave, a maciez das mãos, o calor do corpo.
Numa tarde de domingo, Arnaldo a viu de relance passando num circular pela praia. Numa fração de segundo, divisou-lhe o rosto delicado, os cabelos claros juntados num coque frouxo: seria capaz de reconhecê-la em meio a uma multidão. Mas novamente ela sumiu, outra vez a solidão...
Dias, meses, anos sem sinal de Gracinha... Até aquela noite quando, de súbito, plena e bela, ela entrou no elevador, surgida de algum andar do Bloco 3. Como se voltassem à Boate Paris, eles se beijaram sufocados de saudade. Para completar, artimanhas do destino: deu pane no elevador! Foi quando Arnaldo cantou ao ouvido dela:
— “A vida tem dessas coisas, olhe só nós dois aqui... Presos no elevador, uma noite sem dormir... Zero hora no relógio, legal você está aqui...”
Em algum lugar do mundo real, sem saber de nada, alguém ouvia Ritchie...
Inspirado na canção dos anos 80 "A vida tem dessas coisas". (Ritchie)
Desafio da semana: escolher uma canção, criar o conto embalado por ela, constando trecho e autoria.