Amigas coloridas - BVIW

Tema: Ares do Racismo (conto)

 

Safira era loira e tinha um par de olhos azuis. Da pouca altura dos seus 7 anos, não sabia nada da vida, o tanto que a vida pode ser cruel.

 

Um dia, Safira saiu porta afora e viu sua amiga, da mesma idade, sentada na calçada, com a boneca revirada na sarjeta. Era Bruna, de cabelos crespos, olhos pretos como a noite. Bruna já tinha provado o amargo da vida por causa da cor de sua pele.

 

Safira entrou em casa, pegou sua boneca e foi ver o que Bruna fazia, curiosa que era. Tinha uma má impressão. E essa se confirmou quando viu Bruna passando areia e pequenas pedrinhas na perna, esfregando até arrancar sangue. Dos olhos de Bruna, um rio corria. Safira espantou-se com aquilo e perguntou o que acontecia com a amiga. Surpreendente resposta: "- Quero tirar a cor preta da minha pele. Ser preto é doer todo dia, todo dia!" E sua voz tinha uma amargura que Safira não conhecia. Mesmo não sabendo nada da vida, Safira pegou a bonequinha de Bruna, colocou-a no colo de sua dona, sentou-se coladinha e a abraçou até Bruna ceder ao carinho.  É que criança não enxerga cor em amigos. Ao "abrir os olhos", Safira se deu conta que sua amiga era preta. Não havia palavra que pudesse dizer, de verdade, o que é vestir a pele da outra e sentir sua dor na alma. E também não houve palavra que dissesse que o abraço de uma amiga é emplastro para as feridas do coração. No instante seguinte, as duas corriam de mãos dadas rua afora. Suas bonecas, velhas que eram e sabidas demais do bom e do ruim da vida, estavam felizes com a brincadeira e sorriam uma pra outra.

 

(Anota-se que li um livro onde a autora, de cor preta, relatava que quando pequena se esfolava para tirar sua pele. Infelizmente, não me lembro do nome do livro ou da autora para fazer uma justa referência. O que sei que isso marcou-me profundamente a alma.)

 

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 19/07/2022
Código do texto: T7563074
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