A praia estava deserta. O sol tinha acabado de nascer. Nas mãos, as sandálias que a acompanharam na despedida. A areia que entrelaçava seus dedos deixava pegadas. Tinha passado a última noite na companhia do mar.
Sentou-se diante daquela imensidão, as lágrimas se confundiam com a água que a embebia. Quem a visse de longe, enxergaria uma loucura naquela atitude de se entregar ao mar, como quem quisesse por ele ser devorado.
Enquanto a água encharcava sua pele em vestes de luto, sua alma era desnudada, sorrateiramente, entre soluços e suspiros reveladores uma profunda dor que só a violência das ondas e seu som estridente eram capazes de disfarçar.
Todas as juras de amor passavam em sua mente num filme de romance e as lágrimas pareciam suplicar aos céus uma segunda chance. Ele sempre demonstrou seu amor em atitudes. Ela, ao contrário, seguia seu caminho encobrindo o que sentia: insegura para demonstrações públicas. Pensando na estrada que trilhou, se viu, arrependida. Sequer se olhava no espelho: sem coragem para revelações. E aproveitando as ondas, se entregou, sem oferecer nenhuma resistência. E a água foi levando-a até que...
- Flor? Flor? O que houve? Por que está se debatendo, desesperada? Amor?
Ela chorando, desesperadamente, sentiu as mãos de Toledo acariciar-lhe os ombros. Abraçou-o, ainda, sob a sensação de sufocamento. Ia repetindo:
- Amo você, por favor. Fica comigo. Tudo será diferente. As pegadas não serão as mesmas. - Ele abriu um sorriso:
- Era um sonho, calma! Vou buscar uma água.
- Água, não! Pelo amor de Deus, acabei de morrer afogada... - Disse ela afobada.
- E desde quando você morreu, amor? Acorda...
- Desde que me dei conta que o amor é infinito, mas a vida tem sentido contrário...