Crush, crush, crush - Parte 001

 

Eu tinha 27 anos, nem faz tanto tempo assim. Tão virgem quanto ainda sou (e não somente em questões sexuais), jamais havia tido qualquer relacionamento (exceto um namorico de Internet, aos 16), sequer um beijo de amor.

 

Ao contrário do que muitos pensam, a vida não tem um ponto de partida que leva ao infinito através de um caminho reto. Alguns a imaginam como uma grande roda. Para mim, fã de games e pretenso futuro cientista da computação, programador, mago e até mesmo palhaço, a vida é feita de algoritmos, sendo, na verdade, uma visual novel, aquele tipo de game onde suas ações e escolhas determinam o andamento e desfecho da história. (Saudade de quando jogava “True Love” às escondidas. OK, eu tinha uns treze, catorze anos, era um game hentai, mas nem era o sexo o que realmente mais me atraía. O que me chamava realmente a atenção eram as possibilidades, o poder de escolha, coisa que, sendo criado de maneira extremamente superprotetora, eu raramente tinha).

 

“Uma festa estranha, com gente esquisita”, no parque da cidade, num dia de finados. Foi assim que tudo começou (ou começou, definitivamente).

 

Eu nem sabia do evento, nem tinha a menor noção sobre como seria; mas naquela manhã, uma amiga me mandou uma mensagem estranha, pedindo ajuda para que eu invadisse uma conta de computador; havia terminado um relacionamento e queria recuperar algumas fotos. Prontamente, eu me recusei. Sei lá se meu nível de conhecimento à época seria o bastante para executar tal ação, mas existe uma coisa chamada ética hacker e, talvez, naquele tempo, eu levasse essas coisas bem mais a sério.

 

“Ok, então. Pensando melhor, talvez eu deva tirar essa ideia da cabeça”

 

Concordo, respondi.

 

“Você vai na festa que vai rolar esta tarde, no Parque Municipal?”

 

A pergunta me pegou de extrema surpresa. Eu não sabia de nada, não tinha visto nenhum anúncio, nenhum comentário.

 

Pedi maiores informações, ela disse que seria organizada pelo pessoal “alternativo”. Entendi na hora: artistas, capoeiristas, hipsters e as raças mais loucas que habitam esse universo infinito e além. Obviamente, eu também imaginava que seria um ótimo pano de fundo para a turminha do LSD, maconha e afins; mas nunca fui um cara preconceituoso. E, contando que ficassem na deles, não seria eu o criador dos seus problemas.

 

Combinamos, então, de estar lá às 15h.

 

Cheguei pouco depois disso, não a encontrei. O pessoal ainda estava organizando as coisas, estava rolando a roda de capoeira. Parei para assistir, sentado na grama.

 

Sempre amei artes marciais, embora tenha sido um desastre em todas que tentei. A exceção talvez, tenha sido o Systema, também conhecido como “a arte marcial russa” (por motivos muito especiais, que talvez eu consiga ir esclarecendo aos poucos).

 

Mas a capoeira... sei lá... tem algo de mágico nela! É como se antigos guerreiros africanos se manifestassem, tomassem posse novamente de suas vidas por alguns instantes, através dos corpos de seus descendentes, e demonstrassem toda uma habilidade que transcende o mundo físico. (Dizendo coisas como essas, creio que comecem a perceber que não sou exatamente aquele cara que se encaixa no conceito de “normalidade”. Foda-se.)

 

Caminhei mais algum tempo pelo Parque. Nada da minha amiga. Acabei foi encontrando um anjo, talvez até mesmo um demônio, ou algum tipo de bruxa. Alguém que eu realmente deveria encontrar, e ainda não sabia.

 

<<continua>>

Rodiel
Enviado por Rodiel em 23/06/2022
Reeditado em 23/06/2022
Código do texto: T7544428
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