Cama de Hotel
“Tente não se mexer. Tente dormir, amanhã é outro dia!” … E a “manhã-de-amanhã” será toda minha… será a MINHA MANHÃ! As pessoas morrem ué… Eu só não precisava chegar tão perto… O homem gordo estatelado na piscina. Ele estava roxo, um cheiro horrível. A morte tem cheiro... E até que se alcance aquele – conhecido: cheiro de flores… primeiro virá a parte da carne podre. Seus olhos… Sempre acho melhor não encarar os olhos de um morto, até mesmo nas fotos. No condomínio onde cresci, as crianças mais velhas ficavam dizendo que suas almas entravam na gente se ficássemos encarando demais e então... nos traziam fotos, é claro. Aquele playground, haha… aquelas crianças… Cristo! Como eram más! … nada os impedia. O problema é que dessa vez... eu olhei nos seus olhos. Inchados… afogados… desesperados. No que será que ele pensou no fim?! Deve haver algum pensamento entre “micro-momentos” e “micro-etapas” na morte de cada qual. O pensamento bem na hora em que você percebe que VAI morrer... mas ainda luta. Seu corpo luta. Será…? Será que luta tanto assim? Mas… ele não está AQUI, AGORA, COMIGO (está?). Deus… "É só você não se mexer, você pagou por uma cama de casal só pra você... Não olhe pro lado!". Beber água... ir ao banheiro... abrir os olhos (NÃO). CALOOORR…!! Calor…! Tirar o cobertor (que está dos pés a cabeça) Já deve ser quase manhã… “mentira, mentira, mentira…”. Posso dormir quando amanhecer e acordar umas duas, três horas da tarde. Pro inferno, eu estou de FÉRIAS... Pessoas morrem o tempo inteiro... afogadas...
Eu só não precisava ter chegado tão perto… seus olhos… Oh…!!!