R E E N C O N T R O

   Eu tinha feito uma viagem sem rumo definido, foi assim por acaso, estava envolto em pensamentos não muito bons, queria apenas dar tempo ao tempo e me perder em devaneios, até que minha vida tivesse um sentido. Tinha saído de uma cidade do interior onde resolvi viver, foi uma opção difícil, eu me sentia abandonado, confuso, talvez até desnorteado, mesmo sendo uma pessoa de posses e um empresário de sucesso. Mas isso pouco me interessava, o que realmente eu desejava foi perdido e isso me deixou em baixo astral, sofrendo e alimentando a esperança de reencontrar quem eu amava. Suzana era tudo para mim, nós namorávamos há quase dois anos e tínhamos pretensão de nos casarmos o mais breve possível, mas eu sempre notava nela uma inquietação, uma dúvida e isso me deixava pensativo e até preocupado. Eu a amava loucamente e pedia para que deixasse o emprego simples e fosse viver como uma rainha ou até trabalhar em uma de minhas lojas do ramo de ótica, mas ela dizia que estava acostumada com o seu trabalho numa loja de ferragens de um amigo de seu pai na área de contabilidade e não queria deixar a convivência com os companheiros de vários anos. Relutei muito mas acabei cedendo aos seus apelos. Nos encontrávamos com muita freqüência, eu não passava muito tempo sem vê-la, sentia que era uma necessidade estar perto dela, o que me deixava muito feliz. Algumas vezes íamos a um motel ou transávamos mesmo em meu apartamento, porém nos últimos meses ela começou a arranjar desculpas para não me ver e isso me preocupou muito, mas o meu amor era muito grande e eu agüentei essa barra enquanto podia para não deixar a situação pior do que estava.

   Certa noite quando estávamos em um shopping, na praça de alimentação, eu notei uma inquietação fora do comum nela, procurei saber o porquê mas Suzana simplesmente não me pôs a par. Fiquei apreensivo e perguntei se ela queria ir para casa, ela vacilou um pouco e nesse momento eu notei que o seu olhar se concentrava em uma mesa ali perto. Virei-me para me certificar se alguém a incomodava e vi que um sujeito ria e olhava na direção dela. Ela ficou trêmula com essa constatação minha, razão de eu ter que me dirigir até aquela pessoa para saber do que se tratava. Mesmo ela tentando me segurar pelo braço eu fui até ele, que negou qualquer tentativa de importunação. Para evitar maiores constrangimentos deixamos o local e fomos embora. A minha impressão era de que Suzana conhecia aquele homem, por mais que eu implorasse para que dissesse a verdade ela negava e eu acabei me convencendo para não aborrecê-la. Tentei levá-la para meu apartamento, mas ela pediu para ficar em sua casa, onde morava com os pais e que no dia seguinte nos falávamos. Acreditei. Só que pela manhã, quando estive em sua casa, ela não estava e uma grande decepção eu tive: ela tinha ido embora e deixado o emprego, nem os pais sabiam do seu paradeiro. Isso durou meses e eu fiquei com o pressentimento de que os pais dela estavam a par da situação e do seu paradeiro, visto que apresentavam uma certa tranqüilidade, apesar de negarem.

   Como disse lá no início, resolvi fazer uma viagem sem saber onde ia parar, peguei a estrada em meu carro e segui sem rumo definido, parando somente para comer e abastecer o veículo. Atravessei dois Estados e dormia em hotéis, estava completamente perdido e deprimido, pensava somente em Suzana, mas não sabia como encontrá-la. Muito cansado resolvi parar em uma cidadezinha do interior e fiquei em uma hospedaria, pois por ali não existia nenhum hotel de melhor qualidade. Era um local agradável de clima ameno e de muitas montanhas, o que me agradou, ali seria um local ideal para refletir e pensar no que fazer, estava mesmo precisando de umas férias. No dia seguinte, logo cedo, saí para caminhar um pouco e explorar o local, já tinha tomado o café da manhã e queria disparecer um pouco conhecendo essa pequena cidade. Depois de andar um pouco parei numa pequena praça e sentei num banco para descansar as pernas por alguns minutos. Já estava para ir embora quando me deparei com uma cena inusitada, uma moça era espancada por um sujeito que estava de frente para mim e ela de costas. Aquilo me revoltou e me fez tentar intervir, porém o que me impressionou foi o sujeito, eu o conheci de imediato, era aquele que estava na praça de alimentação do shopping quando eu o interpelei sobre sua atitude com Suzana, apesar de ter negado. Era ele mesmo e o pior, aquela pessoa que estava sendo espancada era Suzana. Fiquei tão irado que parti para cima dele e o esmurrei violentamente, seu corpo se estendeu no chão e algumas pessoas vieram me ajudar. Suzana me olhou assustada e correu para meus braços, o que muito me sensibilizou. O destino fez com que eu fizesse essa viagem sem um destino certo e com isso promover um encontro que eu tanto desejava. Ela chorava copiosamente e me falou arrependida que precisava muito conversar comigo. Meu coração acalmou, agradeci a Deus por essa oportunidade e a coloquei imediatamente dentro do meu carro partindo de volta para nossa cidade, mas antes passamos na casa onde ela vivia com esse sujeito e pegamos o que lhe pertencia.

   Tudo voltou a ser como eu desejava, a nossa viagem de volta foi em total silêncio, combinamos para aproveitarmos o máximo esse percurso que duraria muitas horas e quando chegássemos em meu apartamento conversaríamos com muita tranqüilidade, haveríamos de nos entender. Com efeito, tudo foi esclarecido e ela me contou toda a verdade. Suzana trabalhava na área de contabilidade e esse que ela passou a conviver com ele também era da mesma área, ocorre que ele já vinha desviando recursos da firma a qual Suzana era responsável, ela que assinava todos os papéis confiando nesse camarada de nome Saulo. A situação chegou a um ponto que a direção ficaria sabendo das falcatruas de Saulo, porém a culpa cairia nas costas de Suzana. Como ele tinha intenção nela jogaria toda a responsabilide em Suzana e para que ela se saísse deveria ficar com ele e fugirem para outro estado, no que ela concordou forçadamente com medo de ser presa. Os dias que passou com ele foi um inferno porque ela ameaçava denunciá-lo, o que o irritava ao ponto de espancá-la.

- Foi Deus quem colocou você no meu caminho - disse Suzana para mim.

Com tudo esclarecido na firma e a apresentação de algumas provas, Saulo foi enfim localizado e preso. Suzana voltou para os meus braços e vivemos agora um amor tranqüilo.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 20/06/2022
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