Coração roxo
Todos os dias eu acordo com um humor diferente do outro, ás vezes acordo com tanto vigor e alegria que mal consigo controlar meus membros, na maior parte dos dias eu não sou assim, tão alegre, nesses dias eu já acordo cansada, com dores, de mal humor, com raiva do mundo querendo que todos morram da forma mais cruel que exista, pior até que o escafismo.
Por vezes, o que seria mais frequente do que acordar disposta seria a sensação de puro desânimo e tristeza, decepcionada com a vida que levo, frustrada com as pessoas que convivo e com quem ainda quero manter por perto a quase qualquer custo, o que seria eu afinal se não um recipiente em que as pessoas podem colocar ideias e princípios?
Sem os meus "tudo bem, eu aceito" não teria o amanhã em que eu veria no display "bom dia, te amo", "estou com saudades", "vamos nos reunir e jogar no intervalo!", sem o meu silêncio quem eu seria a não ser um ser humano odioso de pura misantropia sem ninguém por perto.
Então eu me rendo, virei hipócrita quanto ás minhas crenças, que outrora acreditei e hoje não tenho o direito de acreditar, eu não tenho mais vontades ou culhões para tais, ou seja, nem sou mais algo, é difícil pensar que até mesmo se esforçando você é um avatar genérico de infantilidade, arrogância e egoísmo.
Por isso o melhor é o silêncio, mesmo que ele seja tão perigoso quanto o coração roxo de um poeta, que venha o olhar do abismo que mais temia, o abismo da mais pura conveniência e degradação do individualismo que eu queria tanto em mim, para existir eu precisaria pensar, logo, não existo