"BELA, BELA, ALIENÍGENA'
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“Eu poderei conhecer esta criança? … Ela será… minha… criança?”
Eu estava dentro de uma espécie de incubadora feita de material plástico e morno. Meus sequestradores me observavam… Eram oito seres entre fêmeas e machos, que se vestiam igualmente com uma roupa metálica, que talvez fossem como as nossas roupas de astronautas… Porém muito justas em seus corpos muito magros. De todos eles, apenas um se comunicava comigo, mentalmente, enquanto os outros observavam.
Por algum motivo eu estava muito calmo o tempo inteiro… E mais ou menos de hora em hora um vapor verde entrava por uma brecha em meu casulo. Eu era forçado a inalá-lo. Acredito que era algum tipo de calmante (muito mais eficaz do que tudo que usamos aqui).
Quando fui levado, estava me banhando num lago, perto de minha casa em Ballerina City. Estava perdido em pensamentos, já ia anoitecendo e não havia ninguém… até que vi algo estranho brilhando atrás de algumas árvores. Era um brilho que oscilava entre azul, vermelho e lilás, era forte demais, mas não machucava os olhos… De repente o frio que estava fazendo naquele início de noite em leito de lago transformou-se num calor gostoso e confortável.
Eu estava morrendo de medo… mas curioso que sou, me aproximei em passos trêmulos… E o que vi quando cheguei, foi – um susto terrível – surreal e absurdo. Eram dois seres. Parados há poucos metros em minha frente. Vestiam roupas metálicas e capacetes. Seguravam algo que pareciam lanternas – que produziam aquele tipo diferente de luz – mas logo descobri que se tratava de um objeto com muitas funções. Inclusive funções de defesa e ataque. Tentei voltar atrás e sair correndo, mas um deles mirou o objeto, emitindo um feixe escarlate sobre mim, que me paralisou imediatamente. Tentei em vão gritar e me debater… Alguns segundos depois, fui tomado por uma sensação boa. Uma quentura agradável. Estava em paz como nunca estive. Adormeci por alguns minutos… E quando acordei já estava dentro da nave. Infelizmente nada posso dizer sobre o interior da nave. Eu me encontrava num lugar que se parecia muito uma sala de cirurgia, só que muito mais metálica. O tipo de metal… Era algo fantástico! Que podia se tornar “líquido” (gelatinoso eu diria) e em seguida adquirir a forma que eles bem quisessem e precisassem no momento. Mas não pude observar muito devido ao meu estado de entorpecimento e paralisação.
Então eles se aproximaram…
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No início vieram dois… Um “homem” e uma “mulher”.
– Bem-vindo Mateus… – Disse-me o primeiro, mentalmente.
– Você está dentro de minha cabeça?
– Não temos segredos em nosso mundo. Portanto conversamos assim… – Disse-me a mulher ao lado.
– Como vocês sabem meu nome…?
Ele se aproximou um pouco mais… Pôs as mãos sobre casulo; como se quisesse mostrar que tinha um afeito por mim. Seus rostos eram bonitos… LINDOS, na verdade. Suas bocas eram pequenas, quase imóveis, mas não totalmente… muito sinuosas. Talvez não tivessem funções vocais, realmente. Seus narizes pareciam estar um pouco mais “colados” na face do que os narizes humanos… eram achatados. Suas peles eram azuladas – oscilando entre mais ou menos escuras – e seus olhos eram grandes, azuis por completo. Pareciam não ter pelos nos corpos. Acredito que qualquer ser vivo na Terra ficaria maravilhado… Diante da beleza daqueles alienígenas. A fêmea ao lado tinha seios bonitos, por dentro da roupa cinza eu percebia suas curvas… que, apesar de magreza, eram mais que perfeitas.
– Somos visitantes. – Ela me disse, parecendo notar os meus pensamentos. – Pesquisamos sobre vocês… Procurávamos alguém com sua estrutura genética. Procuramos por muito, muito tempo… Dentre muitos outros, você foi escolhido, Mateus.
– Mas… Eu sou apenas… um “cara”. Um qualquer…
Eles se olharam… pareciam sorrir um pro outro. Pareciam achar graça em minha simplicidade, que na verdade era pura ignorância diante da dimensão do universo.
– Mateus… seu DNA é muito especial para nós. É 100% compatível ao nosso. Como se você fosse metade de nossa raça. Isso, pra nós… Para TODOS nós. É fascinante. Nós precisamos muito de você!
Ela se aproximou um pouco mais. Parecia agitada. Entusiasmada. Realmente percebi que todo aquele deslumbre que eu tinha por eles, não chegava aos pés… do deslumbre que ELES tinham por mim. Ela continuou…
– A nossa raça está desaparecendo… Uma guerra com proporções atômicas assolou o nosso planeta… Há muitos anos atrás. Consumimos material alimentício químico e nocivo, enquanto estávamos em quarentena. Na tentativa de prolongar nossos anos de vida… o que conseguimos foi justamente o contrário. – Eu os observava com atenção… Percebi que apesar de suas feições serem menos “expressivas” que as feições humanas; A tristeza, o desespero e a ansiedade… se tornavam cada vez mais nítida em seus olhares e corpos.
– Chegamos ao ponto em que o cruzamento entre nós mesmos passou a gerar anomalias. Seres doentes… insanos. E assim… Tivemos uma outra guerra. Contra os seres mutantes que nasceram e cresceram por lá. Quando a guerra finalmente acabou, éramos poucos e precisávamos procriar. O único meio era procurar um ser vivo, num outro planeta. Investimos nossos últimos recursos e viajamos por anos procurando alguém… como você.
– Vocês estão querendo dizer que querem que eu engravide alguém de vocês? – Perguntei com muito medo de escutar a resposta que viria em seguida.
– Exatamente. – Ela disse, firmemente.
O homem se afastou e sumiu pela nave, deixando-me sozinho com Bela. É assim que gosto de chamá-la em meus pensamentos… a “Bela”. Meu casulo se abriu. Ela me ofereceu sua mão e caminhamos um pouco… até um quarto revestido de metal. A princípio parecia uma prisão. Mas era feita do mesmo metal que revestia a nave. Ficamos sozinhos. Eu tinha uma ideia do que viria a seguir, é claro. Mas me sentia como se estivesse sonhando acordado… vivendo um sonho.
De repente um líquido meio esverdeado começou a subir pelo chão e também a jorrar por vários buracos nas paredes. Entrei em pânico e comecei a gritar. Tentei correr, mas fui paralisado. A Bela segurou minha mão e acariciou meu rosto, pondo-se em minha frente, bem rente ao meu corpo, passou a me acariciar. Eu sentia como se a conhecesse de antes… sentia que me lembrava cada vez mais, por vários momentos, idades e fases da vida… desde sempre. E ela me olhava como se tivesse esperado muito tempo por mim…
– Ela…, quer dizer, você… você é magnífica… É minha Bela… – Pensei. Ela me abraçou com força. Ela podia me escutar… E ela parecia ter… realmente parecia nutrir sentimentos fortíssimos por mim.
– Esperava por você, Mateus… – Ficamos imersos no líquido. Eu pensei que fosse morrer… Mas logo vi que respirava perfeitamente. Talvez fosse algum tipo de “atmosfera sintética” em que nós dois podíamos coexistir, sem roupas de proteção. Ela ficou nua e ela era simplesmente perfeita. Amei aquele ser como jamais amei – e amarei – qualquer mulher em meu mundo. E quando terminamos, eu me senti amolecido, exausto… Adormeci.
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Não sei exatamente por quanto tempo dormi. Mas quando acordei estava de volta ao casulo e todos eles estavam parados em minha frente, silenciosos, me observando. Parecia uma espécie de junta médica. Que se preparava pra dar novidades a um paciente de um caso especial. Eu estava completamente paralisado diante deles. Mas… Bela não estava lá. Me senti inseguro e incrivelmente desamparado e infeliz…
– Poderei conhecer a criança…? Ela será… a minha… criança? – Perguntei mentalmente, olhando todos eles; meus olhos estavam agitados, eu não conseguia focar em apenas um… e procurava Bela com os olhos… Enquanto esperava uma resposta de quem quer que fosse. Meus olhos ficaram encharcados… lágrimas desciam por minhas bochechas. O silêncio continuou. Me senti frustrado e usado. Me veio a tona a verdade… eu era apenas uma “grande descoberta científica”, assim como todas as nossas aqui. Comecei a ficar muito agitado… e mais uma vez, aquele vapor verde entrou no casulo e dormi outra vez…
Quando acordei, eles ainda me observavam com atenção… Ainda segurando suas “pranchetas do futuro”. O seu líder… o meu “amigo”, o único que conversava diretamente comigo; estava lá e tomou a frente, aproximando-se de mim, com sua forma de agir sempre carinhosa.
– Eis aqui, Mateus. O presente que você nos deu: Você acabou de salvar uma raça inteira da extinção. A Bela surgiu através de uma brecha que se abriu na parede. E ao seu lado, segurando sua mão havia uma criança. Era um menino de aparentemente três ou quatro anos.
– Não pode ser… É ele?!
– Sim Mateus, tivemos que manter você perto de nós… adormecido, por um tempo. Precisávamos ter certeza de que tudo sairia como planejado. Sem surpresas e mais decepções… Estamos longe de poder errar outra vez.
O menino não era inteiramente como eles. E também não era inteiramente como um humano. Ele era mesmo, uma versão maravilhosamente perfeita das duas raças. Tinha longos cabelos pretos, como os meus. Tinha grandes olhos como os da mãe, mas não eram azuis e sim verdes. Eu tentei sorrir e me mexer. Estava muito emocionado… Queria tocá-lo… abraçá-lo. Queria trazê-lo aos meus braços.
– Ele ainda não desenvolveu nossas habilidades de comunicação, Mateus. Mas ele é perfeito… E SABE quem você é… Ele nutre todos os sentimentos terráqueos por você. E carrega em si o melhor de dois mundos.
– Me dê a notícia ruim…
– É verdade… Mateus. Infelizmente não poderemos retornar. Você não nos verá de novo. Estamos tentando recuperar nossas tecnologias perdidas na guerra, nossa saúde… porém tudo é extremamente incerto. – Disse-me Bela. Havia uma tristeza em sua voz. Meus olhos jorravam lágrimas. Meu filho e a minha Bela me observavam com uma tristeza genuína no olhar.
– Tenha sempre esta noção… Mateus. De que você sempre será… um de nós. Tenha a noção de que você salvou um planeta inteiro da morte. E por isso seremos eternamente gratos… Você nunca será esquecido.
Permaneci encarando meu filho, mal podendo escutar direito o que diziam. Sabendo que estava olhando dentro daqueles lindos olhinhos verdes pela última vez… Quando olhei também nos olhos dela, senti um tremor… E num piscar de olhos estava de volta ao leito do rio.
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Tudo perdeu a graça… Tudo perdeu o sentido. Tudo o que faço agora é me deitar ao leo e me perder no tempo… olhando as estrelas. Sonhando que as estrelas também estejam olhando de volta.