ANNE E O ABAJUR

   No silêncio do seu quarto Anne repousava tranqüilamente, a janela estava coberta por uma cortina marrom escuro, mas algo a incomodava além da falta do sono. Deitara-se porque o corpo estava cansado e a mente exausta pelo excesso de trabalho. O que mais a incomodava era o abajur ao lado da cama. A luz fraca que ele emitia sofria pequenas alterações, ora mais forte, ora mais fraca, porém quase imperceptível aos seus olhos. Examinou a penumbra do ambiente, o teto branco do quarto dava a impressão de lhe mostrar imagens estranhas e em movimento. Olhou o relógio na cabeceira ao seu lado, ele parecia brilhar ao mostrar a hora, quase quatro da tarde. Largara mais cedo do trabalho, onde lá mesmo havia almoçado, tendo pegado o carro no estacionamento e se dirigido para casa. Estava tão cansada que caíra na cama do jeito que estava. Era só enquanto relaxava um pouco para em seguida tomar um banho. Mas ali ficou por mais alguns minutos, momento em que o abajur lhe chamou a atenção.

   Anne morava sozinha, assim preferia, saíra de um relacionamento um tanto perturbado e o concenso falou mais alto, o que lhe agradou. Pensava nele, imaginava reatar, conversar, tentar compreender a situação, mas isso logo desaparecia de sua mente, talvez não fosse louvável tomar essa decisão sem antes pensar direitinho e medir as consequências. Será que o amava ainda? Estava em dúvida. Raciocinou e achou por bem esperar e esfriar a cabeça.

Súbito o abajur apagou completamente, mas ela continuou deitada, fragilizada, praticamente sem forças para levantar. Poderia fazê-lo, mas se deixou dominar por si própria e esperou um pouco. Um pouco de claridade entrava através da janela, por uma fresta da cortina, que se movimentava discretamente pelo efeito possivelmente do vento. Anne dormiu e nem se deu conta disso. Acordou mais tarde, já passava das oito da noite quando ela consultou o relógio na cabeceira da cama. O abajur lá estava, aceso, sem as alterações que antes ela percebera. Sua intenção era levantar-se e tomar um bom banho, afinal o corpo já apresentava melhoras.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 03/06/2022
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