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A campainha toca e Mary se levanta rapidamente para atender a porta. Do outro lado do olho mágico a imagem de Neil é refletida de forma invertida. Estava com tonturas novamente. Abriu a porta e abraçou demoradamente o amigo que que chegou da Austrália na noite passada. Eles se conheceram num dos desfiles da Vogue do Brasil. E desde então se tornaram inseparáveis.
- Como assim, Mary. Que história é essa de baby? Helloooooo!!
- Uso contraceptivos desde os 14 anos. Não sei o que houve. Nunca imaginei. Mas sei que não posso abrir mão disso, tenho valores cristão, não pretendo passar o fim dos meus dias no inferno.
- Mas o que fazer então com a pressão do boy?
- Vou sumir. Sei lá. Mudar de telefone. De endereço.
- Mais vai viver do que?
- Não sei, ainda. Tem o seguro. Vou esperar os sete meses e depois volto para as passarelas. Vai ser mais difícil, sei. Mas não tenho outra alternativa.
- E seu pai? Não vai contar nada?
- Não. Estamos há mais 10 mil km de distância. Sete meses passam voando.
Mary estava segura de sua decisão. E começo a planejar as mudanças. Ligou para a operadora de celular, desligou o telefone residencial. Retirou o catálogo das agências, provisoriamente. Mas, sua ingenuidade, não permitia que enxergasse que tinha se envolvido com um dos homens mais ricos e poderosos do meio automobilístico dos Estados Unidos. Cedo ou tarde ele a encontraria.
Passarem-se dois meses e ela permanecia escondida na casa de Neil. Vez ou outra passava em sua casa para pegar roupas e recolher as contas. Numa dessas encontrou o porteiro do pequeno condomínio que disse que um senhor de nome estranho a havia procurado diversas vezes e que tinha deixado um bilhete. Ela recebeu e agradeceu. No bilhete estava escrito:
"Eu vou te encontrar. Você não vai arruinar minha vida. Não pense em acabar com o meu casamento. Se você aparecer em jornais, revistas e periódicos me procurando, eu acabo com você. E se não me atender, arrumarei um detetive particular para lhe encontrar e acabar de vez com essa brincadeira. Ou você deixa o seu telefone ou contato para que possamos conversar ou te encontro aonde estiver. Aldrew."
Mary, ficou apreenssiva cm as ameaças, mas não poderia fazer nada. Se fosse à polícia seria localizada. Não queria nada mais com Aldrew, apenas ter o seu filho, sozinha, sem nunca mais vê-lo, ouví-lo ou ser violentada por ele. A lembrança das bofetadas dava-lhe enjoo, mesmo aos 4 meses de gravidez, fora do período normal para esses sintomas.
Decidiu pedir abrigo numa organização social que recebe imigrantes de outros países. Mas tinha receio de que fosse financiada por uma das empresas de Aldrew. Então procurou uma sinagoga, mas os israelitas que a receberam disseram que não havia nenhum programa de acolhimento para mulheres em situação de vulnerabilidade. Sugeriu que procurasse uma igreja.
A sua vida se tornou um tsunami e as ondas a tiçavam de lá pra cá. Via que seu labirinto estava ficando sem saída e, sentada defronte a uma catedral, decidiu procurar o padre para contar-lhe a sua história.
O padre Patrick a recebeu e durante horas a ouviu contar sobre a sua vida, seus pecados, seus arrependimentos e seu pedido de ajuda. O padre afirmou conhecer um grupo que recebia esse tipo de pessoas, provisoriamente, como uma abrigo, até que resolvessem as situações de catástrofe e cuidassem de sua própria vida. E o padre a levou para conhecer Margareth Linz.
Margareth Linz era uma ex-detenta que foi acusada de matar injustamente o seu namorado, de quem ficou grávida e foi proibida de ter o filho, por ordem judicial, por se tratar de uma assassina em pleno julgamento. Anos depois, provou-se sua inocência. A mulher com quem era casado, forjou a morte do marido e a acusou por bel prazer, apenas porque não suportava a ideia de vê-la vencendo. Mas o pior, Margareth nunca soube que o seu namorado era casado. Saiu da prisão e transformou sua casa num local de apoio para mulheres grávidas, para que pudessem ter seus filhos, mesmo que o pai não quisesse.
Mary foi recebida por Margareth, mas algumas regras precisava cumprir, entre elas, de jamais usar o aparelho celular no local, para que as mulheres vítimas de violência, nunca fossem localizadas por aplicativos, o que tornaria o local inseguro.
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