Madrugada de assombro

Por uns cinco minutos Joseph não teria passado pelo pavor que passou. Desconfiado há tempos que sua esposa o estava traindo com o comerciante da esquina, resolveu sair na noite fria e, já com o revólver nas mãos, rumar até a casa do dito cujo. Ele sempre fora um homem dos extremos.

Chegando lá, olhou à espreita por uma fresta da janela pela qual brotava uma fraca luz, e pode perceber que Aristides - esse era o nome do comerciante - nada mais era do que um grande borracho. Estaqueado em uma cadeira estilo Luis XV lá estava ele com os braços abertos desfalecidos, caídos em direção ao chão, com a camisa aberta e um barrigão imenso saltando dela. Com medo de que o homem morresse alí sozinho e sem recurso, tocou na porta que estava aberta e, em pouco tempo conseguiu arrastá-lo para a cama mais próxima, que denunciava que não fora palco de nada naquele dia. Sentiu-se duplamente aliviado.

Aristides não viu nada, não perguntou nada, não era nada.

Joseph, ao sair, nervoso e espantado, deparou-se com um súbito temporal, jogando-o de um lado para outro na calçada estreita, face a volúpia do vento.

Chegando em casa molhado e arrasado - literalmente arrasado pela chuva - encontrou Maria na cama, à meia luz gritando:

Bem que eu sempre desconfiei que tu me traias!

Rosalva Rocha

16/05/2022

Rosalva
Enviado por Rosalva em 24/05/2022
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